Uma da Luciane

Desde quando nasceu, a Lu sofria com infecção na garganta. E

vinha acompanhada de uma febre muito alta, logicamente só abaixava

com a aplicação de determinada injeção. Era praxe. A Lu, claro,

quanto mais crescia mais detestava esses momentos. Não era pra

menos. Doía até na gente.

Apesar de buscarmos soluções na alopatia, na homeopatia, nas

raízes, simpatias, benzeduras e por aí vai, nada de cura. E quando

a coisa acontecia, o difícil era convencê-la da injeção. Rapaz,

parecia coisa de feira chinesa.

O fato aconteceu numa tardinha qualquer. Ela tinha cinco anos.

A febre, naquele dia, chegou aos quarenta graus. Estávamos no

consultório, o mesmo médico, a dobrada preocupação, choros, a Lu

quase inconsciente, desespero, a injeção cavalar, a dó, a dor. De

repente, com uma voz firme e sentando-se ela disparou:

__ Não precisa da injeção... eu não tenho mais nada, nem febre

nem nada... não preciso tomar... a febre baixou.

Olhamos para o médico, para ela, ali, firme, resoluta, consciente, e

sorrindo para alguém, apontando.

__ Foi o médico bonzinho ali que me curou...

__ Que médico, filhinha? Só tem o doutor Rogério aqui na sala com a

gente...

__ Aquele ali rindo pra mim... de barba branca, parece um vovô

bonzinho...

Foi o Dr. Rogério quem colocou a mão na testa da Lu, e depois, o

termômetro, que confirmou o que ela afirmava. Examinou a

garganta e se deu por convencido. Não havia um sinal de infecção.

Febre? Nunca mais a Lu a teve naquelas condições. A garganta?

É como se ela nunca tivesse tido uma infecção sequer na vida. Hoje

ela está com trinta anos. Alegre, feliz e saltitante.