CAFUNÉ

POEMA:

Culpa do amor

Pecado da solidão

Lágrimas da carência...

O problema nunca foi o corpo; é a cabeça

Nunca foi a estética; é a postura

O problema nunca foi a alma; é medo

Nunca foi o medo; é a morte

O problema nunca foi a morte, tampouco o túmulo; é a vida

Nunca foi a vida; é a covardia

O problema nunca foi o problema:

Soluções vazias

Trágicas lembranças

Inevitável felicidade momentânea

O problema... Ó, o problema!

Quantos problemas não hão de vir?

E quantos problemas não serão mortos?

Cemitério de angústias

Velório da depressão

Mas também quantos risos não hei de espalhar?

Quantas glórias não hei de comemorar?

Quantas? Quantas? Quantas?

E quantos adeuses eu não irei chorar?

Quantos adeuses não ficarão para sempre?

Quantos? Quantos? Quantos?

Inúmeros...

Mas o adeus não é ausência

O adeus é a presença chorando reencontros

É a saudade saltando solta do céu ao sol de lembranças

Vingança da recordação

Mágoa do afeto

A alma grita

O corpo geme

Olhos sangram

Veias choram

O peito sofre demência

Insuportável não é a solidão; é a carência

Dez dedos e um cafuné fazem uma falta danada

De vez em quando, mas fazem...

Culpa do amor

Pecado da solidão

Lágrimas da carência...