CACHORRINHA NO JARDIM DE BORBOLETAS
De: Ysolda Cabral
 
 
 
Triana Zefa Cabral de Siqueira é uma cachorrinha baiana,  da raça Poodle e que foi  ''naturalizada'' pernambucana quando o meu cunhado, o qual residia com a família em Salvador-BA, foi transferido de volta para o Recife. 

Logo que chegou 
fez amizade com todos nós, adaptando-se à nova vida com facilidade, felicidade e festividade; isso  sem nenhuma falsidade. 
 
Chegou com a idade de  três anos. Agora, com 15, não é debutante é uma cachorrinha em fase terminal. Com a saúde bastante debilitada, se arrastando pelos cantos, desorientada, sentindo dores - apesar de muito bem cuidada e medicada. Penso: se cachorro tiver alma, a dela está ansiando por liberdade.
 
Estive com Zefa no último final de semana, na casa de praia de minha irmã e fiquei chocada com o estado da nossa querida e amada cachorrinha. Ela adorava ir pra lá, aonde, no jardim, passava quase todos os dias brincando de pegar borboleta e fazendo gracinhas pra gente sorrir. Agora nem reconhece o lugar!
 
Fiquei tão triste com seu estado de saúde que, me ouvi sugerindo à minha irmã pedir à veterinária abreviar-lhe o sofrimento. Ela disfarçou a indignação e disse não.  
 
Eu também, de certa forma, estava indignada e chocada com o que acabara de sugerir com tanta naturalidade.
 
Surpresa comigo, fiquei a refletir sobre a questão ''eutanásia'' e quanto mais refletia, mais achava que estava errada, mas aí  olhava pra Zefa e sentia um enorme aperto no peito. Novamente me surpreendi pensando: se fosse minha eu já tinha acabado com esse sofrimento.
 
Com esse conflito, no domingo botei o pé na estrada de volta pra Recife e, pela primeira vez, não curti a viagem, mesmo adorando viajar comigo dirigindo.
 
É que, dirigir na estrada sempre me faz ficar mais relaxada, mais lúcida e com as idéias todas em seus devidos lugares. Contudo, dessa vez não foi assim...
 
Eu dirigia com a mesma atenção e responsabilidade de sempre, porém, sem relaxar, pensava na cachorrinha que ficara se arrastando, sem nem saber estar na sua casa de jardim de borboletas, as quais, imitando os beija-flores,  pairavam no ar por não terem com quem brincar de pega-pega.