DONA ADELINA

"PERCHE RETORNO DA TE

LA MIA CANZONE TI DICE

CHE IL PUI BELGIORNO PER ME

MAMMA SON TANTO FELICE

VIVERE LONTANO PERCHE..."

Domingo de Páscoa. Hoje, finalmente, senti o desejo de falar de uma

figura, a mais terna das figuras. Minha mãe.

Ontem, estive com a Iara na casa de minha irmã Guiomar, onde

jantamos, em companhia de suas duas filhas, Maria Alice e Maria

Andréia, seus netos Lucas e Miguel, e a namorada deste. A Déia,

como a chamamos, deu-me uma foto bem antiga, onde estavam Seu

Tonico, Dona Adelina, os irmãos Waldemar, a Guiomar e o Sebastião.

De vivo, somente a Guiomar. A foto é de 1933/34. Eu e o Roberto,

não havíamos nascido. A vovó Laurinda, mãe de meu pai, havia

falecido recentemente, motivo pelo qual vestiam luto.

Como minha mãe era bonita quando jovem! Casou-se muito cedo,

aos 17 anos já havia nascido o Waldemar. Era operária da Tecelagem

Ypiranguinha, e pelo que contam, seu casamento foi muito combatido

pela família do meu pai. Creio que por sua origem humilde, filha de

carcamano, como eram chamados, ofensivamente, os imigrantes

italianos. Casar-se com um membro de família tradicional? Nunca!

Contudo, através de sua pertinácia, de sua obstinação, e, sobretudo,

de seu amor pelo companheiro e pelos filhos, conseguiu angariar a

simpatia de todos, tornando-se uma figura querida. Foi muito

importante para seu marido, também jovem, ajudando-o na

formação de sua vida profissional, e na condução do início da família.

Quando vim ao mundo, ela já com 25 anos de idade, e o nascimento

do Roberto, após mais uns 6 anos, a família estava já consolidada,

com meu pai bem situado, como funcionário da Prefeitura de Santo

André.

Desde a mais tenra idade, vi Dona Adelina uma mulher de fibra,

sempre atarefada com os afazeres da casa, na limpeza, cozinhando,

e, principalmente, na educação dos filhos. Sempre ela que nos levava

a passar férias, na praia, na Pensão Paulistana, no José Menino, ou

em Poços de Caldas, no Hotel D’Oeste. Enquanto tivemos a Mercearia

Dom Bosco, ela é que nas madrugadas de sábado, abatia e limpava

os frangos para a venda. Não me esqueço das idas a São Paulo, de

ônibus, para as compras nas Lojas Americanas, Sutoris, Kosmos,

Eduardo, na Sönksen dos deliciosos chocolates. No tempo de meu

internato no Arquidiocesano, a mala de guloseimas que fazia, para

que substituísse minha ojeriza pela comida de lá. Mas, os grandes

momentos vividos com ela, foram os almoços de domingo, quando

toda a família se reunia, e mais alguns tios, primos que apareciam

nessas ocasiões. Sua comida era, simplesmente, sensacional. Não

havia quem não gostasse. Depois, o show de canções.

Quando, em 1965, após meu casamento, veio a notícia do câncer no

braço, foi um baque muito grande em minha vida. Operada, não

demorou muito tempo para aparecer outro tumor, agora na nádega.

E, em 1969, constatou-se o carcinoma no pulmão. Após a cirurgia,

não resistiu, falecendo em 27 de março do citado ano. Infelizmente,

naquela época, não existiam os recursos de hoje, o que lhe poderia

ter dado mais uns bons anos de vida. Deixou-nos muito nova, tinha

apenas 57 anos.

Hoje, em minha casa, quando à noite vieram todos os meus netos,

lembrei-me dela com muita saudade. Imagino o quanto ela gostaria

de estar junto de todos nós. Sem dúvida, entretanto, ela, lá de cima,

de seu descanso eterno, sentiu-se muito feliz em nos ver reunidos.

Todos os que estavam na reunião, ao verem sua foto, ressaltaram

sua beleza. Sua candura.

Dona Adelina, minha querida mãe, que tanto me amava (diziam até

que eu era o queridinho!) deixo-lhe meu preito de gratidão, pelo que

fez por mim, pela educação a mim dada, e que me tornou um

cidadão de bem, que tem, na família, sua razão de existir.

Peço-lhe, minha mãe, a sua benção! Com muita saudade!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 12/09/2012
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