Menos

Não tenho a audácia

de dizer que a vida me trouxe sabedoria,

talvez porque ainda seja cedo

para essa afirmação,

mas acredito plausível e sem excesso

crer que aprendi algumas lições com minhas experiências.

Uma delas é o menos.

Eu explico.

Normalmente desde muito cedo

todo convívio social nos impulsiona

num consenso popular

para o que consideramos ser “para frente”.

Seguir adiante apesar dos obstáculos

parece ser uma frase sem contestação.

Atrás de uma falsa ideia politicamente correta

de que o importante é competir

somos instigados,

quando isto já não faz parte do nosso íntimo,

a tomar gosto pela vitória.

Assim vamos adequando nossas convicções.

Se perdermos abraçamos a importância de competir.

Mas se ganhamos...

Bom, daí é outra história.

E com a euforia de constantes superações,

olhando sempre em frente nos sentimos poderosos.

E acredito que o mote da filosofia seja mesmo esse.

Mas só para não perder o costume

reservo-me o direito de ser contra corrente.

O conforto de ter certezas não vale a clareza de ter dúvidas.

Seguir sempre em frente

não pode encerrar um sentido em si mesmo.

Somos diversos,

impossível crer para todos um trajeto único.

Assusta-me a ideia de rebanho.

Quem sabe seja saudável

olhar também para trás e para os lados.

Quem sabe ir mais devagar,

mas de mãos dadas com alguém.

Mergulhar menos vezes de cabeça

e mais vezes experimentar a água

com a ponta dos dedos dos pés.

Afinal até as mais belas virtudes precisam ser dosadas.

Fé demais é fanatismo.

Amor demais obsessão.

Sei que para alguns podem parecer palavras vazias.

Sei também que alguns dirão que são apenas palavras,

pois minha vida para ser exemplo

deve ser vista no carbono, não no papel.

Mas mesmo assim me arrisco

a continuar acreditando

que o melhor caminho parece ser o do meio.

E se pudesse reescrever

algumas de minhas histórias elas teriam muitos menos,

entre eles:

Menos trabalho.

Menos confiança.

Menos garra.

Menos força.

Menos crença.

Menos pressa.

Menos intensidade.

Porque ser intenso é bom para quem servimos

durante a vida,

mas nos consome rapidamente

e às vezes nos esgota.

Bárbara A Sanco
Enviado por Bárbara A Sanco em 12/09/2012
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T3877759
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