Virgulino Comprou uma Moto

Uma das infinidades de coisas bonitas do nosso Brasil. O chamado Cânion do Xingó, situado às margens do famoso Rio São Francisco, em Delmiro Gouveia, Alagoas. Você chega até lá de catamarã ou lancha. O embarque se dá em Canindé do São Francisco, em Sergipe, nas proximidades da usina da CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco). E lá você se depara com grandes formações areníticas provenientes da decomposição de rochas ao longo dos séculos. Num efeito visual que de tão belo consegue descansar os olhos da gente.

E tem a informação de que por aquela região toda (Alagoas, Sergipe e Bahia) andaram Lampião, Maria Bonita, Corisco e os demais cangaceiros de todo o grupo. Andaram a pé e a cavalo. Enquanto hoje se anda principalmente de moto e de outras modalidades de veículos sobre rodas.

A história de Lampião e seu bando, magistralmente cantada em versos por cordelistas de renome, é uma propriedade dos brasileiros mais humildes ou não tão aquinhoados com uma distribuição de renda mais equânime. Transformou-se numa lenda. E essa lenda está tão presente nas camadas mais populares que a própria CHESF concordou (ou patrocinou) com a colocação de três estátuas (Lampião, Maria Bonita e outra cujo nome não lembro) numa das rotatórias existentes no acesso à sua usina em Canindé do São Francisco.

Sabemos que Lampião e Maria Bonita foram assassinados em Angicos, Sergipe, tendo suas cabeças expostas inicialmente na cidade de Piranhas, próxima a Canindé. Mas sabemos também que (ou talvez seja apenas presunção minha) Virgulino e seu bando foram pessoas de periculosidade bem inferior se comparadas a Delúbio Soares, Marcos Valério, José Dirceu, Fernando Collor, Paulo Maluf e muitas outras personalidades da nossa vida pública. Na medida em que puderam esses últimos elementos contribuir, conforme nos informa a mídia falada e escrita, para a estagnação do país e o seu subdesenvolvimento, a partir da sua participação na utilização indevida dos recursos públicos, sempre com graves repercussões na vida dos mais humildes e necessitados. As ações desses indivíduos alcançaram e de certa forma ainda repercutem em todo o território nacional, enquanto o que Lampião e sua turma fizeram ficou circunscrito a uma fração do nosso espaço nordestino.

E tanto isso deve ter alguma coisa de verdadeiro que muito provavelmente nenhuma das pessoas elencadas serão tratadas pelo imaginário popular com a deferência e apreciação positiva que tiveram Virgulino e seu bando, a despeito das atrocidades (nem todas comprovadas) e crimes que eles tenham cometido.

De qualquer modo, alguma coisa mudou. Hoje o cangaceiro anda de moto, e não a cavalo. Por outro lado, tal como antes, ainda falta água em cidades como Areia Branca, Itabaiana, Ribeirópolis, N.S. da Aparecida, N.S. da Glória, Monte Alegre e outras, lugares pelos quais passamos até chegar a Canindé. Isso com o São Francisco cheio de água como sempre está, havendo pontos em que sua profundidade chega a atingir 150m.

Aracaju, 11/09/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 12/09/2012
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T3877531
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