TODOS MISERÁVEIS
Hoje, dia 11 de Setembro de 2012, falasse muito sobre as mortes ocasionadas pelo atentado as Torres Gêmeas em Nova York. Todavia, eu estou a pensar em outra morte, a morte de um único indivíduo. Não era meu parente, nem amigo ou coisa parecida. Nunca falei com esse homem que veio a óbito na última sexta-feira. Soube ontem a respeito do seu falecimento. Chamava-se Marcelo. Essa é a única informação que eu tenho.
Durante a semana de trabalho, meu caminho se cruzava com o dele. Sempre, passando um pouco das 8h, eu tinha que me desviar do Marcelo, que ocupava a calçada da Igreja do Santíssimo Sacramento, no encontro da Rua Imperatriz com a Rua da Matriz. Lá estava ele sentado, com suas pernas inchadas e necrosadas, vez ou outra com um prato de comida na mão, ou dado pelos comerciantes da área ou pelos grupos religiosos filantrópicos.
Era um simples morador de rua, alcoólatra e pelo que parece, já não tinha mais os laços parentais. Por falar em não ter, seria mais simples relatar o que tinha: Nada além de sua carcaça tomada por várias doenças. Não sei sua idade, porém suponho que não passasse de meio século de vida. Palavra essa – Vida – que no caso do Marcelo parece não fazer sentido. Afinal, qual o conceito de vida? Basta abrir os olhos e respirar dia após dia, mesmo que seja pra sofrer todo tipo de violação de direitos?
Há dois dias passo pelo mesmo lugar e já não esta mais ali o Marcelo, tão comum a minha rotina visual. Morto e enterrado como indigente. Não havia ninguém pra reclamar seu corpo. Ninguém que tenha chorado a sua partida. Se foi dessa para melhor não há como saber, mas me arrisco em dizer que pior do que estava não sei se poderia ficar. Pois bem...é isso: Uma sociedade na qual pessoas não são tratadas como pessoas, e parecem inexistentes ainda tem muito que evoluir.No fim das contas, os miseráveis são todos nós.