HISTÓRIAS QUE NÃO CONTEI!

Não sou somente eu. Muitos têm suas histórias. Em certas ocasiões,

abrimos o baú que se encontra no nosso sótão, a cabeça, e as

recolhemos, entre os velhos objetos ali arquivados e esquecidos.

Repletos de teia de aranha.

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Tivemos uma mercearia, a Dom Bosco, no fim da Avenida João

Ramalho, na Vila Assunção, esquina da Rua Guilherme Marconi. Isso

no início dos anos 50. Como se sabe, ali era, e ainda é, passagem

obrigatória para quem vai ao Cemitério da Saudade. No mínimo, uma

vez por dia, passava um enterro, que naquela época, a grande

maioria, era feito à pé. Sabíamos que iria passar um, antes mesmo

de chegar na frente da mercearia, pois, como de costume, fazia uma

parada na Matriz, ali perto, para as últimas orações. Nessa hora, os

sinos badalavam. Já ficávamos preparados para abaixar as portas,

em respeito ao falecido. Numa dessas ocasiões, ao passar o féretro,

um freqüentador da mercearia, nosso vizinho, sócio do Dimitrova no

Café Glória, o Mangaccio, como era conhecido, depois da passagem

veio ao nosso encontro e disse:

- Puxa, o enterro passou e nem vi quem morreu!

OOO

Na Rua Guilherme Marconi, no meio da quadra entre a Rua Santo

André e a Avenida João Ramalho, moravam uma senhora e duas

filhas, cariocas, as moças bem conhecidas na cidade entre os

rapazes, pois, além de extrovertidas (como todo carioca),

principalmente a mais nova, eram muito atraentes. Mas, a historinha,

tem como personagem principal, a mãe. Nessa época, por volta de

1955, era muito difícil mulher dirigir carro. Muito raro. Foi, então,

com muita surpresa, que um dia, a senhora, de uns 45 a 50 anos,

apareceu guiando um automóvel. Aliás, barbeira como ela só. Certa

ocasião, foi para São Paulo, e como todo andreense, parou e

estacionou o veículo no Parque Dom Pedro. Subiu a Ladeira General

Carneiro e foi onde todas as mulheres iam: Lojas Americanas,

Slopper, Sutoris, Brasília e outras. Pois, bem. Terminadas as

compras, voltou, desceu a Ladeira, pegou o ônibus, e quando chegou

em casa, ai lembrou que tinha ido de carro!

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Desde a infância, levado pela minha mãe, frequento Poços de Caldas.

Até hoje, duas vezes por ano, vamos, eu e minha mulher, com dois

netos, para lá.

Nas férias escolares de janeiro de 1956, fomos, eu e mais dois

primos, passar uns dias nessa cidade mineira. Nem preciso dizer que

nos divertimos às baldas. Todo dia havia bailinho nos hotéis. E, onde

foi o cassino do Palace Hotel, eram promovidos grandes bailes, nos

fins de semana. Num deles, após alguns cubas-libres, senti

necessidade de ir ao banheiro. Não é que, ao chegar na porta,

protegida por um biombo, já praticamente com a “coisa” na mão,

aparecendo, falei para os primos:

- Vou dar uma “mi......”. E a moça sentada, no lado de dentro, com o

sotaque mineiro e olhos fechados:

- Notra poerrta, moço!

OOO

Por volta de 1957, o salão de festas do Aeroporto de Congonhas, era

o local onde se realizavam os grandiosos bailes de formatura das

melhores escolas de São Paulo.

Nesse tempo, prestando serviço militar no CPOR, e fazendo o 2º ano

do científico, meu pai, além de passar a morar na Capital, perto do

Arquidiocesano, me deu um carro, um Simca Arondi, a fim de facilitar

minha locomoção. Desse modo, no porta-malas do automóvel, levava

o smoking, camisa, gravata borboleta, juntamente com a farda do

Exército. Era só arranjar local para me trocar. Do baile para o

quartel!

A farda era um chamariz para o flerte. Difícil o dia em que uma

menina não se sentisse atraída por ela. Mais, inclusive, do que pelo

próprio fardado. Até aqui, em Santo André, quando vinha passar o

fim de semana, gozava de certo prestígio entre as garotas.

Mas, eu era muito tímido!

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Bobinhas, inocentes, mas são histórias que guardo com muito

carinho, e que, de quando em quando, voltam a fazer parte de

minhas recordações, mormente ao me deparar com situações algo

semelhantes.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 11/09/2012
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