A GOTA DE ORVALHO E O PÁSSARO
A GOTA DE ORVALHO E O PÁSSARO
Crônica de Carlos Freitas
Do alto da copa de uma frondosa e majestosa arvore... Numa de suas incontáveis folhas, uma solitária gota de orvalho percorria seu caminho rumo ao solo, quando lhe chamou a atenção um pobre pássaro que acabara de pousar soturno e cabisbaixo em um galho próximo. Curiosa, ela interrompeu sua queda iminente, dirigindo-se a ele: - Amigo pássaro: Por que guarda teu apaixonante e mavioso canto em tão bela manhã? O pássaro, como que acordando de um pesadelo profundo, olhou assustado à sua volta, não descobrindo quem o interpelara. Ficou atento, certamente, viria nova indagação. - Posso ser-lhe útil em algo tristonho amigo? Se me procuras, estou à tua direita. Sou uma gota de orvalho! Se posso ajudar-te, dize logo. Minha vida é breve e volátil. O Sol vem chegando!
- Em que pensa poder ajudar-me? – retrucou o pássaro. Além de insignificante, acho-a petulante, atrevida e mesquinha!
Sábia, a gota de orvalho não sucumbiu às rudes palavras, retrucando: - Farei de conta não ter ouvido o que disse. Quem sabe se do pedestal do teu desespero e egoísmo, não tem desprezado as pequeníssimas coisas, que como eu, podem ser valiosas? - Esqueceu quantas vezes saciou tua sede e a de teus filhotes, ao encontrar-me repousada nas folhas? - Alguma vez avaliou a força que temos, quando reunidas? Cada uma de nós que cai sobre a terra, tem a magia de torná-la fértil, germinar suas sementes e produzir alimentos, permitindo assim uma existência orgânica saudável.
Como nós, as gotas que formam as chuvas que caem sobre rios e mares, tem o incrível poder de gerar energia, mover máquinas, formar reservatórios de águas potáveis, irrigar grandes lavouras, embelezar praças, formar quedas d’águas espetaculares, cardumes fabulosos, manter a fauna e a flora. Tem também, o poder avassalador de destruir cidades ou territórios inteiros, provocando tragédias e catástrofes. Sabe que a maior parte do planeta resume-se em água?... "Sou apenas uma gota no Oceano, mas, o Oceano seria menor se eu faltasse" - (Madre Tereza).
Após ter ouvido atentamente o que dissera a gota de orvalho, e arrependido pela rudeza de suas palavras, o pássaro se desculpou: Perdoa-me, amiga gota de orvalho. Estava desesperado e arrasado quando aqui pousei. E tenho motivos para isso, pois vê bem: - no vendaval que ontem assolou essas plagas, perdi meu ninho e com ele, meus três filhotes. Até antes de encontrá-la e ouvi-la, pensava também em morrer, porém, a força das tuas palavras deu-me novo alento para reconstruir minha vida.
O pássaro percebeu que enquanto falava, a gota de orvalho rolava desdenhosamente pelas folhas rumo ao solo. Então, alçando um vôo rápido e certeiro, aparou-a no ar com o bico aberto, imaginando naquele momento, estar bebendo um pouco de sabedoria!