Convite ao Fred’s Burger 


Conversava um dia desses com o requintado chef do Fred’s Burger sobre salgadinhos, e eu lhe dizia, entre um gole e outro de guaraná, que o que mais me agrada numa empada bem-feita é a tampa. E a empada que ele faz é realmente uma coisa. Depois de comer a primeira, dá vontade de traçar todo o tabuleiro, com as forminhas de papel e tudo. 

(Tampa de empada com guaraná é quase uma madalena proustiana para mim; sempre põe em minha boca o gosto e a sensação de uma infância feliz, a deliciosa recordação do garoto de cabelos ruivos — ruivos, sim, não esta palha sem graça de agora — que não deixava empada sobre empada nas festas de aniversário do nosso prédio, esganação pura. Vendo aquilo, os mais velhos tocavam-me fora de onde eu estivesse na base do cascudo e do puxão de orelha.) 

Pela arqueada de sobrancelha de chef Alfredo, senti que tinha pisado na bola e que devia elogiar o recheio também. E ele estava certo. O homem emprega toda a sua arte culinária na feitura do recheio de empada mais saboroso de Marechal Hermes, e chega um cara enaltecendo só a tampa!... Percebi minha mancada, dei um tempo meramente defensivo, e elogiei o recheio. Fui mais longe: comi até o caroço da azeitona, lambendo os beiços, para não haver qualquer dúvida quanto à minha sinceridade. 

Quem leu minhas crônicas mais recentes sabe que gosto de estar à porta do Fred’s Burger, em geral entre as sete e as nove da noite, apreciando o movimento deste pedaço do bairro. Ali em volta estão a igreja católica, o teatro, os jardins de Burle-Marx, o hospital, tudo contribuindo para este ar de cidadezinha do interior, gostoso toda a vida. 

E o nosso Alfredo conhece todo mundo. Papo de primeira, antena afiada, quase um francisco-de-assis para com os bandos de cães sem dono que vêm procurá-lo em busca de comida e água, através dele venho me inteirando que muita coisa que desaprendi nos últimos treze anos, quando morava no insulano Jardim Carioca, doido para regressar ao subúrbio natal. Tem sido um farol o velho companheiro para este barco ainda meio desgovernado, ganhando aos poucos rumo e ventos favoráveis. 

Portanto, venham, minhas amigas, venham conhecer pessoalmente o cronista em seu bairro nativo e fazer um lanche com ele no Fred’s Burger. Com as indicações que dei lá em cima, é mole localizar o endereço. Venham, que chef Alfredo e eu estaremos de braços abertos.


[23.12.2006]