Para onde vai a Nossa Musica ?
Ouvindo no rádio e vendo na televisão, vejo com muita tristeza o que nos é apresentado em matéria de musica popular brasileira. Quando algum entendido resolve falar ou escrever sobre ela, a fronteira da nossa musica para em Roberto Carlos, Caetano e Chico Buarque.
Deixando de lado o mais rico tempo de nossa música popular brasileira.
Quantas musicas que foram as preferidas do povo do Brasil jazem esquecidas e o que é pior, “proibidas” de serem tocadas pelas rádios atuais. O saudoso Antônio Carvalho disse, no programa que fazia na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, que se ele tocasse uma musica de Orlando Silva, por exemplo, “Amigo Leal”, ele seria censurado.
Pois ai se vê que a atual musica brasileira é esta que só uma faixa de pessoas gosta. Não tem passado nem futuro, e um presente de gosto e qualidade muito duvidosos.
Muitos podem dizer que eu sou um saudosista e eu direi que se gostar do que é de boa qualidade é ser saudosista, realmente eu sou. Com muito orgulho, por que quem não gosta de musicas boas, sejam clássica ou populares, mas músicas de verdade? As obras de Beethoven, Verdi, Bizet, Tchaikovsky, Chopin, Gunot, Offembach, Mozart, Vivaldi, Strauss, são sempre atualíssimas.
Mas temos de enterrar o passado glorioso por meio do preconceito contra o que é bom. Não precisamos ir até o começo do rádio no Brasil. Tempo de Donga, João da Baiana, do 1º samba gravado “Pelo Telefone”, e de cantores como Gastão Formenti e João Petras de Barros, que segundo alguns conhecedores da musica teria sido o Carlos Galhardo da década de 20 a 30.
O que me faz escrever esta crônica foi o falecimento de Altamiro Carrilho, que foi o ultimo de uma legião de flautistas fabulosos como Benedito Lacerda, Patápio Silva, e até Jararaca, da dupla Jararaca e Ratinho que era um excepcional flautista. E Dante Santoro que com o seu Regional e sua flauta encantavam a todos pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Voltando à Rádio Nacional, eles prestigiavam todos os tipos de musica boa. Desde a Polonaise, de Chopin, às Quatro Estações de Antonio Vivaldi, e mantinham um elenco de grandes músicos que enriqueciam o programa. O pessoal da Velha guarda como Dante Santoro, Russo do Pandeiro, maestro Chiquinho, Jacob do Bandolim, Dilermando Reis. E toda semana nos presenteavam com uma hora de musica brasileira especial. Quem não se lembra de “Subindo ao Céu”, “Saudade de Ouro Preto”, “Rapaziada do Brás”, “Branca”, musicas tocadas aos domingos, por mestres nos seus instrumentos.
À noite tínhamos o “Papel Carbono” programa comandado por Renato Mursi que apresentava calouros já prontos para serem profissionais. Musicas como “O destino desfolhou”, quando o calouro cantava com a sua voz, sem imitar Carlos Galhardo, ou “A Deusa da Minha Rua”, de Sílvio Caldas, ou “Serra da Boa Esperança”, de Francisco Alves, ou ainda “Uma Grande Dor não se Esquece”, de Gilberto Alves.
Então, vendo as musicas de hoje não sei onde vai parar a nossa musica brasileira. Algumas das ultimas musicas, realmente boas, foram “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, “Construção” de Chico Buarque de Holanda, “Disparada”, de Geraldo Vandré, na voz de Jair Rodrigues, “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, “Um Rio que passou em Minha Vida”, com Paulinho da Viola. Ainda as musicas de Adoniran Barbosa: “Trem das Onze, Saudosa Maloca, Samba do Arnesto”. Mesmo as musicas sertanejas não vem sendo defendidas com o talento de que mereceriam.
O grande compositor Cartola merece ser lembrado com pelo menos estas duas grandes canções: “O Mundo é um Moinho”, e “As Rosas não Falam”.
Vários cantores que fizeram muito sucesso, hoje nem são mais lembrados, como Jorge Veiga, campeão de muitos carnavais. Quem pode esquecer-se de “Que importa que a Mula Manque”. Outro grande cantor foi Alcides Gerardi, que com a musica “Professora”, encantou a todos.
Tínhamos Nuno Roland, um cantor de voz para todos os tipos de musicas, incluindo musicas francesas. O que poderíamos dizer de Moreira da Silva, com os famosos sambas de breque, como “Acertei no Milhar”, e muitos outros sucessos. Outros cantores como Caco Velho, Linda e Dircinha Batista, Odete Amaral, Elizeth Cardozo. Não podemos nos esquecer de Déo, o ditador de sucessos, como era conhecido. Ainda Araci de Almeida que gravou tudo de Noel Rosa, Albertinho Fortuna, voz para todos os gostos, ótimo cantor de tangos; Marlene, Emilinha Borba, Hebe Camargo, Inezita Barroso que foi uma das primeiras a gravar a musica “Ronda”, de Paulo Vanzolini. Não podemos esquecer de Vicente Celestino que fez, na minha opinião, a melhor interpretação de “Noite Cheia de Estrelas”.
Todos os que escrevem de memória sobre algo às vezes cometem alguns esquecimentos e eu não devo ter fugido à regra, mas aqui foi um pretenso relato dos tesouros que estão sendo enterrados no Brasil.