A morte é uma piada sem graça II

Quando nascemos nem temos uma visão certa do que será nossa vida. Viver, talvez nem faça sentido. A única certeza que temos é a morte, da qual fugimos numa agonia fatigante. Mas nem adianta fugir, pois ela parece andar sempre ao nosso lado, uma sombra presente ao nosso lado. Muitas vezes, saímos de casa cedo e não voltamos mais... Na primeira esquina, paramos de respirar.

O que somos nós quando a morte nos é anunciada? Parece que ela fica nos cutucando o dia inteiro em que vamos morrer, deixa claro que ela veio nos buscar. Só a percebemos no momento em que fala: Sua hora chegou! Não temos tempo nem de beber o ultimo copo d’água, dizer pela ultima vez “eu te amo”, abraçar a pessoa amada, dar a ultima risada, sentir pela ultima vez o sabor daquele churrasco, ouvir a nossa musica preferida pela ultima vez. E as pessoas que nem podem fazer uma ultima homenagem a nós? A morte é traiçoeira, inimiga mais cruel...

A morte é uma piada sem graça! E quando somos aquela pessoa metódica, que só nós cuidamos e arrumamos as nossas coisas? De repente, são outras pessoas que vão arrumar as nossas roupas, os nossos troços, a nossa estante, os nossos livros. Isso é um xeque- mate macabro, pegadinha macabra. Pra morrermos basta estarmos vivos. Às vezes começamos a falar e nem temos tempo de concluir, andamos e do nada, cessam-se os nossos passos. Vivemos uma vida inteirinha fugindo da morte, e de repente, numa colisão, num entupimento de artéria, o coração paralisa.

O pior de tudo é que quando estamos no caixão nem ouvimos os choros , nem sentimos as dores dos nossos entes queridos. Tudo se forma num cenário de um ato solitário que começa quando respiramos, inspiramos e expiramos pela ultima vez. A grande verdade é que não queríamos morrer nunca ou ate mesmo, queríamos viver os últimos rabiscos de nossas vidas, enquanto ficávamos bem velhinhos.

Mas a morte não diz o dia em que ela vem nos buscar. Vamos ao laboratório e fazemos um check-up e verificamos que todos os nossos órgãos estão em perfeito funcionamento, mas num gesto imprevisível, nossos sangues se agitam em nossas artérias e somos vitimas de um AVC ( Acidente vascular cerebral), enquanto muitas pessoas consomem todos os dias inúmeros maços de cigarros, comem os mais salgados churrascos e tão com suas pressões a mais de 18/12, ainda assim são sobreviventes que a morte nem os fez uma visita, sequer.

A morte é uma visita que não leva recados. Leva a nós mesmos, sem nos dar chance de nos despedir das pessoas que mais amamos. E, de forma cruel e insensível, maltrata as pessoas que nos amam de verdade.

Hoje faleceu, Dão ramos, um grande homem, um grande amigo, um grande ser humano, vítima de um acidente de carro. Isso sempre nos enfraquece, pois a morte de um ser humano enfraque o outro sempre. A toda a sua familia, os meus sentimentos.

Gilberto Angelo
Enviado por Gilberto Angelo em 10/09/2012
Reeditado em 10/09/2012
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