Política de Famigerados
Na pequena província onde passo alguns dias e executo meus afazeres a política está a ponto de bala, como diria o velho gaúcho. A guerra fora declarada. A população está enfervorosa. São três concorrentes ao posto de governança municipal, fazendo uma política barata e de quinta. São piores que o Latino e que o Michel Teló. Se juntar os três não dá um. Ouvi-los em propaganda eleitoral é o mesmo que assistir ao Zorra Total. É piada pronta e sem graça. A política se arrasta cambaleante e sem ideais. O discurso é pífio. Não existe uma linha tênue a ser seguida. Muito menos coerência. É briga de esfomeados por pão. Meu cachorro labrador assistiu e convulsionou. Apliquei-lhe fenobarbital no cérebro. Dizem que os labradores são inteligentes. Ele é mais sábio que eu. Eu assisto e não convulsiono.
A cidadela em questão, onde os bárbaros acotovelam-se pelo poder, é uma província minúscula, de 60 mil habitantes, no interior do Rio Grande do Sul. Um vilarejo chamado Cruz Alta. Uma cidadezinha onde não existem livrarias, teatros, cinemas e parques. A diversão dos jovens é beber cerveja em posto de gasolina. Uma pseudocidade. Uma cidade fantasma. Lá habitam pessoas interessantes. Gosto de lá.
A pauta principal do jogo político é a saúde e sua miséria. Fala-se da situação caótica, e todos tem soluções mirabolantes. São políticos superiores, mágicos e competentes. Como não havíamos pensando neles? Se o problema é a falta de médicos, o financiamento, as práticas, a organização, a formação e o coletivo, a solução está nestes seres superiores que concorrem à prefeitura. Eles representam a boa feitoria. Se resolverem o problema da saúde tudo será solucionado. Não querem poder nem dinheiro, querem apenas ajudar aos necessitados que recorrem ao SUS. Pobres e coitados políticos! Tenhamos piedade deles.
Preciso de um fenobarbital para a alma.