Sala de espera

O dia estava bastante nublado, e mesmo com os ponteiros do relógio acusando dez horas, parecia que estava ainda amanhecendo. Restavam apenas quinze minutos para a minha consulta médica. Corri ao meu quarto para pegar um livro e colocar na bolsa para ler na sala de espera. É um hábito que adquiri há bastante tempo com a finalidade de tornar agradáveis e aproveitáveis esses momentos ociosos e ansiosos, que a espera nos causa.

A sala estava repleta. Percebi que as consultas estavam atrasadas e vi que havia sido uma feliz ideia ter-me lembrado de levar o livro. Antes de pegá-lo, fixei o meu olhar em todas as pessoas que ali se encontravam e duas chamaram-me a atenção, por notar um contraste muito nítido em suas expressões e modos.

Uma delas era uma senhora, que há um bom tempo não devia sentir prazer em subir à balança, pois já atingira a idade em que as glândulas se tornam preguiçosas na queima das gorduras. Tinha o rosto arredondado, embora as suas maçãs fossem salientes. As sobrancelhas, quase sem pelos, formavam um arco fino como se fosse um risco sobre os olhos, que faziam as dimensões dos traços do rosto aumentarem, ficando em desequilíbrio com o seu formato. Seus cabelos estavam pintados em tons avermelhados, que lhe emprestavam um aspecto artificial. Tudo nela demonstrava agitação. Parecia a personalização da inquietude. Suas pernas balançavam-se nervosamente em movimentos ritmados, que incomodavam as pessoas presentes. Suas mãos abriam e fechavam a bolsa, corriam pelos cabelos, folheavam revistas e, de tempos em tempos, um suspiro dolorido, vindo do âmago do ser, escapava-lhe com certa rebeldia.

Bem ao seu lado, uma jovem esbelta de mãos longas e dedos finos, parecia envolta em pensamentos agradáveis. Mantinha uma postura ereta e um olhar distante. Seu rosto bonito de traços perfeitos e harmoniosos era iluminado por olhos incrivelmente verdes e tinha por moldura os seus cabelos escuros. Era como se toda serenidade habitasse nela e nenhum movimento seu denotava qualquer ansiedade.

A porta do consultório abriu-se, um homem de meia-idade, forte, com a tez queimada pelo sol, testa ampla, que já denunciava o início de uma calvície; saiu de lá com um sorriso radiante. Imediatamente, ouviu-se o ruído da senhora inquieta erguendo-se da cadeira e indo ao seu encontro. Com uma voz cheia de emoção, ele disse:

— Os exames deram negativos. Não tenho nada do que suspeitávamos!

A transformação que se operou nela foi tão grande, que ela parecia outra pessoa. Era a mistura de alívio e alegria intensa. Abraçaram-se calorosamente e vi lágrimas em seus olhos. Saíram caminhando de braços dados e aos poucos desapareceram no corredor. Olhei para a moça de mãos longas, ela sorriu para mim com os olhos umedecidos e falou:

— Sei o que eles estão sentindo, passei por algo semelhante. Tive câncer e fiquei curada, mas perdi um ovário. Hoje estou aqui imensamente feliz porque o teste de gravidez deu positivo. Vou ter um filho!

Dei-lhe parabéns e desejei felicidades para ela e o bebê. Ela agradeceu sorrindo e deve ter percebido que eu partilhava de sua alegria. Nesta hora a secretária chamou-a, ela despediu-se de mim e entrou no consultório.

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 09/09/2012
Código do texto: T3873810
Classificação de conteúdo: seguro