CHOREI, CHORASTES...

Ontem, ao atingires o clímax de teu desespero, inconformada com tuas vicissitudes e adversidades, debruçada em meu ombro, chorastes...
Querias a segurança de um refúgio; a fortaleza de um castelo...
Querias a esperança de uma promessa; a sensatez de um conselho...
Por isso te refugiastes em meus braços, e em meu peito procurastes abrigo...
Pobre de ti...
Pobre de mim...
Não entendestes porque, com meu corpo selado em teu corpo, com meu rosto colado em teu rosto, com minha boca, tão desesperadamente, calcada em tua boca, e, com meus olhos mergulhados em teus olhos, eu, também, inesperadamente, comecei a chorar...
Vida, precisas entender...
Sou o que sou. Miseravelmente o que sou. Um simples mortal...
Escravo das minhas próprias limitações...
Criatura que pode chegar até onde deixam. Não até onde desejaria...
A segurança e o refúgio que necessitas, meu corpo não pode te oferecer...
As palavras que te acalmariam e consolariam, minha boca não tem força, nem poder, para pronunciá-las...
Sou, assim como tu és, frágil, reticente, inconstante. Acima de tudo, carente...
Para sentir-me forte, também preciso da sombra de alguém. Que me complemente. Que preencha meus vazios. Que aponte o caminho que devo seguir...
Ansiosamente, eu procuro em ti, aquilo que desesperada desejas que eu te ofereça: a segurança de um refúgio, a fortaleza de um castelo, a esperança de uma promessa, a sensatez de um conselho...
Não sou um deus, caído do Olimpo...
Não sou um anjo, que desceu dos céus...
Não sou, sequer, um super-herói, cheio de truques e com um cinto com mil soluções para teus problemas...
Sou, assim como tu és, um ser humano...
Agora, sabes. Agora já podes entender por que...
Ontem, quando me abraçastes chorando...
Eu, também, chorei...
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