HOTÉIS
Foram vários os hotéis por onde eu hospedei-me, alguns cinco estrelas, outros não existia estrelas, apenas uma entrada, uma cama e um velho guarda-roupa carcomido.
De todos os hotéis por onde passei guardo com muita satisfação e alegria um hotel sofisticado que ficava na Avenida São João, bem em frente ao Largo Paissandú, no centro da cidade de São Paulo.
Conheci este hotel quando eu era office-boy, na década de 70, quando eu ia entregar algumas correspondências na portaria para o zelador e ficava imaginando que quando eu completasse dezoito anos iria hospedar-me naquele lindo hotel.
Dois dias após completar meus dezoito anos, reservei alguns trocados e lá fui eu hospedar-me no meu sonho de adolescente. Avisei mamãe que iria dormir num hotel e ela desabou em risos e perguntou-me o porquê, se a cama onde eu dormia não estava boa. Contei da minha vontade enorme em conhecer o hotel e ela concordou e ainda perguntou-me quando eu ia saindo se eu não ia levar nenhuma garota para fazer companhia e eu disse que não, pois era apenas para conhecer e viver outro ambiente jamais visto aos meus olhos de garoto da periferia.
Cheguei ao hotel e fui recebido com boas vindas e um enorme sorriso do zelador que foi logo anunciando que não receberia correspondências nos finais de semana e logo disse a ele que gostaria imensamente de hospedar-me naquele magnífico hotel e ele imediatamente disse:
- Sabe garoto, vou hospedá-lo no melhor apartamento que existe neste hotel! Passou a mão num enorme molho de chaves, pegamos o elevador e fomos até o último andar do prédio, caminhamos lentamente e a chave foi colocada na fechadura, ele abriu a porta e eu quase tive um ataque cardíaco diante de tanto luxo e beleza.
Desejou-me boa tarde, fechou lentamente a porta e saiu rindo alto pelo enorme corredor do prédio.
Abri as cortinas vagarosamente e ainda consegui ver o por do Sol da maior cidade da América Latina. Joguei-me na confortável cama e fiquei imaginando tomar um banho naquela enorme banheira existente no banheiro.
Era muito luxo e beleza aos meus olhos e resolvi descer para comer um lanche chamado Bauru no tradicional Ponto Chic e após saciar minha fome e sede voltei ao meu paraíso.
Enchi a banheira de água, entrei cautelosamente na mesma e fiquei bebericando algumas cervejinhas, lendo uma revista que acabara de comprar numa banca de jornal chamada “POP” e imaginando que era um garoto muito “rico” em poder desfrutar daquele momento maravilhoso em hospedar-me pela primeira vez num hotel.
Após vários anos morando no interior, quando ia visitar minha querida cidade de São Paulo fazia questão de hospedar-me neste hotel que existe na minha mente até hoje e ainda escuto na minha mente o carrinho andando pelo corredor trazendo o maravilhoso café matinal. Belas recordações da primeira noite num hotel!