LAVA RÁPIDO
- Oi bem, acorda, hoje é sábado, que tal irmos lavar meu carro?
Assim eu era cordado quase todos os sábados e fingia estar dormindo para ganhar mais alguns afagos e abrir os olhos e encontrar um sorriso angelical convidando-me para lavar um velho carro fabricado em 1.975 caindo aos pedaços. A vontade de falar um “não” era tentadora, mas diante de tantos “mimos”, afagos e um ar de felicidade estampado no rosto da pequena, curvava-me diante do momento, dava um carinhoso beijo e levantava alegremente.
Todos os nossos cafés matinais aos sábados eram demorados e colocávamos nossas conversas em dia e entre um sorriso adormecido, uma mordida no lanche preparado antecipadamente pela patroa, observava o sol invadir nossa cozinha convidando-nos para mais um lindo dia.
Após bebermos o café, eu colocava uma bermuda, uma camiseta regata e um chinelo e seguíamos alegremente até o lava rápido que ficava próximo do nosso lar.
Naquela época não existia “DVD” e eu sempre comprava algumas fitas cassete de MPB para ouvir ao longo do percurso até o lava rápido e para agradar a patroa também comprava algumas fitas de “pagode”.
Ao chegar ao lava rápido onde conhecíamos quase todas as pessoas, pedíamos uma lavagem completa e eu imediatamente ia até os lavadores passar as instruções “secretas” e assim dizia aos garotos que lavavam os carros:
- Garotada, não há a mínima necessidade de “pressa”, quanto mais demorar mais caixinha vocês ganharão! Isto porque eu adorava jogar truco e beber algumas cervejas e quando encontra parceiros bons no jogo de truco passava quase toda a tarde lavando o tal do carro e a patroa irritada questionava a demora e eu sempre dizia:
- Calma linda, “cabeça de gelo” é que a garotada está caprichando na lavagem e afinal seu carro ficará maravilhoso e todos ficarão admirando o brilho dos dois: do carro e do seu brilho, minha estrela!
Em seguida as cartas tinham sido distribuídas e eu tinha pegado as três melhores cartas do jogo, chamava a patroa e pedia gentilmente para ela ir até a dupla adversária e gritar bem alto nos ouvidos dos marmanjos: TRUCO!
Obviamente que os meus desejos não eram atendidos e ela pedia gentilmente para irmos embora, pois o carro já tinha sido lavado já fazia mais de meia hora.
Levantava-me contrariado com um sorriso amarelado e despedia do meu parceiro anunciando que no próximo sábado o jogo continuaria.
“Entrávamos no carro que estava muito limpo e cheiroso, pagávamos e eu sempre dava uma “gorda” caixinha” para os garotos lavadores e íamos embora escutando pagode e eu batucando no painel frontal do carro sob efeito de várias cervejas e um sábado maravilhoso que íamos ao lava rápido.