NO MEIO DO MUNDO
Mais uma vez, no meio do mundo e de seus habitantes, nos encontraremos. Você me verá entrar de bengala, como nunca me viu antes chegar e, ainda que eu o tenha avisado, talvez lhe seja um choque. Entrarei ereta, como uma rainha, a rainha abdicada desde sempre. Todos e todas me olharão chegar; tentarei não ser fulminada por algum ou por mais de um olhar. Como sempre nos olharemos, fundo, por um segundo-relâmpago, com todos os mundos calados no olhar. E nos falaremos, um pouco, com o mundo de mundos calados na voz.
Conversarei com os vários amigos, que os haverá e, principalmente, estarei cercada e protegida pelas amigas fiéis. Seremos fotografados, em pequenos grupos. Sorriremos, muitos trocarão figurinhas, as minhas figurinhas tentarei calar.
Depois, irei embora, com vontade de tomar um porre que me faça morrer durante uns cem anos, mas não o tomarei, não o poderei tomar.
Depois... depois... voltarei para cá. Algumas horas mais tarde o Sol nascerá, como todos os dias, sempre pelo lado de fora da janela.
Por quantos Mundos e Tempos mais, Amigo, a vida terá que ser assim? Só de pensar nisso, me vem a vontade de ser mortal que, sendo mortal, ainda que havendo novas vidas eu não voltaria, nunca mais como gente; voltarei como erva, talvez como as flores de alguma paineira, talvez como a sombra do teu futuro cão. Ah, Jacques Brel, como em teu Ne Me Quite Pas.
Na manhã de 07 de setembro de 2012