OS ANTIGOS SONS

Nos bons tempos de criança, nosso mundo era bem reduzido! Não passava ele, quando muito, de nossa vizinhança. Quando muito!

Então, tudo o que acontecia ao nosso derredor, se tornava parte de nossa existência, e na falta, quando o fato não se dava, já ficávamos preocupados. O que será que aconteceu? Assim era!

Faziam parte do cotidiano, como já falei em outra ocasião, os apitos da Ipiranguinha, da Conac, o barulho do trem que, apesar de bem longe a linha férrea, conseguíamos perfeitamente ouvi-lo. Não existia, na época, a barreira dos prédios...! Acordávamos com eles. Bem como, nosso sono era interrompido pelo cantar do galo do vizinho, na casa do Dino Vezzá, avisando as galinhas que ele estava ali, pronto para o ataque.

- Cococorocó!

E, as galinhas, fugindo do seu assédio.

- Cocoró! Cocoró!

Um som que sempre assanhava a criançada, era daquelas matracas que os vendedores de biju acionavam, para anunciar suas presenças.

- Olha o biju! Ratatatatata!

- Mãe, compra!

Uma vez por mês, pelo menos, passava pela rua, o funileiro, que vinha soldar as panelas furadas. Trazia pendurada em uma das mãos, uma lata, tipo dessas de óleo de 18 litros, com uma abertura lateral, onde se via um braseiro para derreter a solda, e com um ferrinho, batia numa frigideira.

- Tim, tim, tim!

Minha mãe, e as vizinhas, ao ouvir esse som típico, pegavam as panelas para o devido conserto.

Em outras ocasiões, aparecia o afiador de faca. Ele vinha com uma espécie de carrinho de mão, na forma de banqueta onde uma correia fazia girar uma roldana, acionada por um pedal, parecido com o acelerador de carro. Esse dispositivo movimentava, em cima da mesinha da banqueta, a pedra de esmeril, que em palavras cruzadas definimos como mó. Sua presença era anunciada por uma gaitinha de boca, com tubinhos de tamanhos diferentes, que definiam as notas musicais.

- Firuliruli! Firulirulá!

Já o sorveteiro, trazia o carrinho e chamava a freguesia com uma buzina, tipo de bicicleta, isto é, uma espécie de corneta cujo som era produzido apertando uma bola de borracha, nela afixada.

- Foom...foomm!

Deixei para o fim, o entregador de gelo. Sim, no final dos anos 40, as geladeiras funcionavam através de pedras de gelo colocadas em um compartimento existente na parte superior da mesma. Em minha casa, quem fornecia as pedras, era o depósito da Antártica existente na cidade. Vinha o caminhãozinho cujo motorista era um cidadão de cor, o Xaxá. Até aí, nada de mais! Todavia, esse cidadão chegava em minha casa, sempre cantando músicas italianas.

Coisa rara, inusitada para a época, que me chamava a atenção!

São recordações muito gostosas, que evidenciam como tudo era simples.

O profissional exercia suas atividades através de meios bem rudimentares.

Nem por isso, deixava de ter sua importância na vida da população, que necessitava de seus serviços.