Crédito e Descrédito da Pesquisa Eleitoral
Parece até ser cultural que, nas sociedades de baixa instrução e honestidade, fabriquem-se ou maquinem-se generalizações gratuitas, sejam elas para agradar, sejam para desagradar. Inúmeras vezes, escutei mulheres, decepcionadas com o homem que tinha como companheiro, atribuírem universalmente a todos os homens, até incluindo seus pais, as rejeitáveis qualidades do marido: “nenhum homem presta”; e homens, considerando-se “traídos”: “todas as mulheres são iguais...”, isto é , igual, igual a dele, desrespeitando a mãe, sem comentar, para ambas ocasiões, aspectos psicanaliticamente freudianos. Tal desaprovável e injusto costume de incorretamente generalizar o particular se aplica a muitas coisas, fatos e pessoas. Disso não escapam, pela força dos frequentes acontecimentos na nossa república, os políticos, criticados pela já popular e injusta sentença: “Todo político é corruto”. Acredito na existência de políticos honestos, dentre os que já se foram, os que aí estão e os que hão de vir.
Afirmar “não acreditar em pesquisa” é também uma descabível generalização, é desacreditar por completo dessa metodologia, proveniente da lógica, usada pelas ciências exatas, inclusive para auferir ou mensurar, no campo das observações cientificas e sociais, as maiores probabilidades das conclusões desse tipo de argumento hipotético. De modo que eu, pessoalmente, acredito em pesquisa, apenas desconfio de “certos pesquisadores” que sofrem influência de interesses escusos nos mundos do dinheiro e do poder. Ao contrário disso, conheço números, prevendo resultados em eleições de países europeus, que disseram exatamente os percentuais de votos de cada candidato, corroborados depois de contados.
É aceitável alguma margem de erro? É, até eventual falha nos formulários da consulta, descuido que desgasta a reputação da empresa responsável. Compreenda-se que “errare humanum est”, e que esse tipo de generalização estatística sai de um conjunto menor para se concluir sobre um universo maior. É como, diante de uma carreta de laranjas, o leitor verificasse 10% da carga e concluísse que, sendo esses 10% de laranjas observadas de boa qualidade, logo toda a carga deveria ser de boa qualidade. Já vi fazendeiros, com menor rigor, vendendo ou comprando “uma boiada no olho” e não perdendo uma só cabeça. O inaceitável é o erro proposital, planejado, às vezes utilizado em todos os sentidos. Recrimine-se a tendenciosa instrumentalização da pesquisa, mas também a pregação do descrédito à pesquisa, que vem sendo muito propalada especialmente pelos candidatos que, na realidade, estão ainda em baixa cotação da preferência eleitoral.