O melhor brasileiro
Toda escolha é falha e comprometida. Isto de se escolher o melhor brasileiro me parece algo tendencioso e, de certa forma, passional. Por isto mesmo escrevo passionalmente. Acredito, por outro lado, que tais escolhas são dispensáveis, mas o mundo se move dentro de alguns esquemas e escolher é o que todos vivem fazendo, desde escolher a melhor fruta em um balcão, vestidos, bolsas, sapatos, até namorados, políticos e outros.
Ser participativo é meio caminho andado para o exercício da democracia. Eleições de governantes, pelo menos desde quando me entendo, têm como componente mais forte o fator emocional. Quem conhece um pouco da história política do Brasil haverá de concordar com esta afirmação. As contendas políticas e até os crimes integram a paisagem da disputa por postos de governança. Por que e como morreu Getúlio Vargas? O mesmo vale para Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Estudiosos têm investigado e levantado hipóteses, mas a verdade demora a aparecer, ou jamais aparecerá.
O SBT está coordenando uma escolha, aquela que vai apontar quem receberá o título de O MELHOR BRASILEIRO. Esse título já causa arrepios, pois eu diria que o melhor brasileiro é meu pai. Portanto, tudo muito subjetivo. E eu me pergunto sob quais critérios eu elegeria Lula, Chico Xavier, Pelé, Ayrton Sena, Irmã Dulce, a Princesa Isabel, Tiradentes, Santos Dumont ou qualquer outro dentro e fora da lista. De forma alguma estou questionando o gosto de qualquer pessoa ou o merecimento de cada um desses ou de outros.
Mas já que estou aqui, algo devo dizer e alguém precisaria escolher dentro da listagem dos doze semifinalistas apontados. Não direi por que não escolheria fulano ou beltrano. Isto seria uma temeridade. E que temeridade? A de que, além de ser passional, me tornaria inconveniente e antipática. Criticar é uma arte quase impossível nesta época em que tudo “faz mal e engorda”. Todas as coisas exigem seu espaço ao sol e ai de quem não der. Tudo bem, o sol nasceu mesmo para todos.
Preciso parar de enrolar com esta conversa mole para boi dormir e dizer em quem eu votaria. Sim, digo a seguir, mas relembrando que se trata de uma opção subjetiva e mesmo passional. Verifiquei a bendita lista dos doze e escolhi, sem hesitar, dois nomes. Antes digo que a lista poderia ser dupla, uma de homens e outra de mulheres. Pronto, agora direi meus preferidos e porque os escolhi. Eles são: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck de Oliveira.
A preferência por Getúlio tem a ver com o gosto político de meu pai. Até já me referi a isto em outro texto. Meu pai era um getulista apaixonado e eu me apaixonei tão somente por ser apaixonada pelo meu pai e o que ele achava bom eu acreditava que era. Quando Getúlio se foi eu tinha apenas seis anos de idade e meu pai já me levava aos comícios em Aracaju. E, depois, passei boa parte da infância e da adolescência ouvindo sobre Getúlio. Se Getúlio se suicidou ou se foi tudo uma farsa, não sei. Se a famosa carta de despedida foi ou não escrita por ele, pouco importa, mas que aquela carta é infinitamente bela, isto é.
Mas, e um motivo mais esclarecedor e consciente sobre a preferência por Getúlio Dorneles Vargas? Li muito sobre o estadista e sei que, igual a todo ser humano, tinha virtudes e defeitos. Sei que dentro daquele discurso inflamado e populista estava também um pequeno ditador. Entretanto, o que me encanta em Getúlio é mesmo o que chamaram de paternalismo. Que pena que digo isto? Pois fica o leitor com a pena e eu com a minha paixão. Os frutos da preocupação social até hoje vivos da herança getulista ainda me encantam. O homem Getúlio que teve tempo de amar a vedete Virgínia Lane também me fascina.
E Juscelino? Fiquei encantada pelo menino mineiro que, conforme li em uma revista (Manchete ou Cruzeiro, não me recordo exatamente), se esforçava para ir à escola e que, colocava esparadrapos nos pés para economizar os sapatos. Usava o sapato do pé direito e fingia estar machucado o pé esquerdo. Assim, alternadamente, mudava de sapato e de ferimento até que o par se gastasse. Dizem outras reportagens que o sorridente Juscelino nunca se acostumou com os sapatos, assim como a Gabriela de Jorge Amado.
Juscelino foi eleito, em 2001, o Brasileiro do Século, nada demais se vencesse esse pleito atual movido pela televisão. Acredito que estou dispensada de falar do democrata, do simpático, do anjo adamantino que fez o Brasil avançar, que realizou o poema do progresso e da construção de Brasília. Se ele em algo errou, a mim pouco importa, mesmo porque paixão é paixão.