MUDANÇAS NA SOCIEDADE.
Chagaspires
Nasci filho de pais de classe pobre.
Apesar de algumas faltas, foi uma criança feliz como qualquer criança é sem ter que me preocupar com essa questão de classes sociais.
Nasci em um pacato lugarejo chamado Camaragibe que na época pertencia a São Lourenço da Mata, uma cidade as margens do Rio Capibaribe que corta também o Recife, capital do estado de Pernambuco.
Filho de um motorista com uma professora primária, uma mistura muito consistente; era sempre chamado de: filho da professora, ou filho do motorista.
Havia mais dois meninos e meus irmãos que faziam parte de minha família; Carlos e Luiz; meu nome era José das Chagas, porém me chamavam de Zito ou Zezito.
Morávamos em uma casa da Vila operária da Fabrica de tecidos CIPER, Companhia Industrial Pernambucana, onde minha mãe lecionava na Escola da Corporação Operária de Camaragibe, e por isso podíamos viver naquela casa da vila.
Com um quintal grande e cheio de frutas entre as quais podíamos encontrar: mangas de variados tipos, jaca, banana, cajus, jenipapo, fruta-pão etc, podíamos dispor de comida sem precisar de muito esforço.
Graças a DEUS nunca passamos fome.
Dentre as muitas coisas que gostávamos de brincar e que um menino da zona da mata pode dispor estavam os banhos de rio e de quedas d’água, subida em árvores, correr descalço, soltar papagaio, que em muitos outros lugares chamam de “pipas”, e nas tardes ensolaradas, deitar nas campinas e olhar para as nuvens vendo seus formatos diversos, entre outras coisas.
Cresci no aconchego de um lugar onde todos se conheciam, onde nos inícios das noites, os vizinhos se juntavam nas calçadas para conversar, onde as pessoas costumavam passear na praça de braços dados, onde a violência se encontrava um tanto distante da sociedade.
Hoje me encontro em uma idade e as pessoas me chamam de idoso; vivo em um bairro de classe média alta.
Olhando para traz vejo o quanto fui feliz apesar de pobre.
Foi uma existência nobre. Um tempo que não volta mais.
Meus netos hoje vivem entocados em edifícios; trancados em casas, escravos da internet, da televisão ou dos jogos, e nós estamos sempre temerosos pelo que possa acontecer.
Os tempos mudaram e com eles a sociedade mudou também.
Tanta violência, tanta correria, tanto desespero.
Apesar das benesses da era moderna não sei se mudamos para melhor ou para pior.