UM NOBRE GESTO
Minha querida Thalita Alves, filha do candidato que se intitulou Arlindo Palhaço Seboso e que, com a maior demonstração de amor paternal, correu em defesa do seu pai, ao comentar a minha crônica “Um pouco de história”.
Louvo, minha querida, o seu nobre gesto; eu faria o mesmo!
Família, para nós todos, tem uma projeção exponencial; mães, por exemplo, na quase absoluta maioria, vão defender seus filhos, criminosos confessos, até a morte. Para elas, as mães, eles serão, sempre, aquelas criancinhas que amamentaram, que cuidaram, que viram crescer e se tornarem homens. É compreensível, muito embora, socialmente, eles sejam uma excrescência maligna, o que, evidentemente, não é o caso do seu pai.
Particularmente, desde que me conheço, fui, continuo sendo e vou morrer adorando a figura do palhaço. Quantas e quantas vezes, menino pobre, furei a lona para poder chorar de tanto rir com a legião de palhaços que conheci! Mesmo reverenciando os trapezistas, os acrobatas, os amestradores e os mágicos, o que eu ansiava mesmo eram os intervalos, quando os queridos palhaços se apresentavam, com suas roupas maravilhosas, seus sapatos enormes e de solas despregadas, flores imensas nas lapelas, colarinhos engolidores, calças com cinturas imensas, narizes redondos e vermelhos; ah, que saudade daquela palhaçada!
Mas, querida, imagine só se, ao invés desses palhaços como Carequinha, Torresmo, Croquete e Arrelia entrassem em cena um médico com o estetoscópio pendurado no pescoço, um advogado trajando aquela tradicional roupa preta, um engenheiro de capacete, uma arquiteto com a régua T sobre os ombros, um contador sobraçando grossos compêndios legais e contábeis , um professor portando seus alfarrábios, um venerando juiz togado, um economista falando em “reversão de expectativas” ou um político corrupto e me diga, honestamente; o efeito seria o mesmo? O objetivo teria sido alcançado?
Evidentemente que não!
O que o nosso pobre país precisa, querida Thalita, é de gente certa, no lugar certo e na hora certa, trinômio que, infelizmente, estamos ainda muito longe de conseguir.
Nomes, minha cara, nada representam; são, apenas, símbolos que pretendem identificar-nos, mas nem isso conseguem plenamente.
Não, querida, não é o nome; é o que está por trás dele. É a capacitação real para um mister que requer uma formação muito especial para que se possa alcançar o que se pretende e o que esperam os cidadãos.
Houve um tempo em que eu quase fugi com um circo. Talvez me tornasse um bom palhaço, para minha total satisfação, mas, hoje, seria absolutamente medíocre, porém talvez pudesse ser um modesto vereador.
Da mesma forma que você tomou conhecimento da minha crônica, possivelmente lerá esta, que nada tem de retaliadora, muito pelo contrário; tem como objetivo maior a exaltação do grande amor de uma filha para com o seu pai!
(não deixe de ler a colega Valéria Dantas)