Como não quis desistir da tarefa de administrar o Centro de Internação para Menor Infrator, me vi caminhando naquela direção todos os dias.
Vale ressaltar aqui que minha principal atividade seria cuidar da parte física do Centro, bem como do seu bom funcionamento e também da assiduidade dos servidores. Era de minha responsabilidade também o controle de estoque de alimentos, almoxarifado e cuidados quanto à higienização e conservação do espaço físico. Organizar as escalas dos plantonistas, cronogramas com os dias e horários das saídas dos jovens, no que não poderia faltar o veículo, os educadores e assistentes sociais que acompanhariam o interno caso houvesse audiência com o juizado da infância, consultas médicas, sem falar nas atividades externas como cursos, escolas e também visitas a familiares, para aqueles que tinham boa conduta.
Em um primeiro momento pensei que não daria conta do trabalho, mas com organização e responsabilidade tudo estava caminhando a contento, porém como não há nada que funcione totalmente à perfeição, principalmente quando se trata de órgão público, meu desempenho começou a esbarrar em alguns empecilhos sendo um deles a falta de compromisso da guarda policial, quando era necessário escolta para acompanhar os sócios-educandos para os compromissos externos. Eles sabiam da necessidade e de suas responsabilidades, mas sempre faziam corpo mole ou então de desentendidos. Mesmo repassando antecipadamente a escala dos compromissos agendados para o mês, sempre tinha que me dirigir até o corpo de guarnição para reiterar o pedido; outro fato que me deixava um tanto irritada era quando tinha que adentrar nos alojamentos para verificar algum dano, às vezes hidráulico ou elétrico e até mesmo a questão de material de higiene e de cama, era necessário que me fizesse acompanhar de monitores para as averiguações, e era dificultoso encontrar quem tivesse coragem ou se dispusesse a tal proeza. Comecei a perceber por que era tão difícil a permanência de administradores por muito tempo no Centro.
A lei dos Direitos da Criança e do Adolescente prevê que quando em regime de internação é dever do Estado suprir todas as necessidades do menor tais como alimentação, material escolar e de higiene, roupa para cama e banho e quando há aqueles com familiares com baixo custo financeiro, até mesmo vestimentas e calçados.
Não precisei de muito tempo para perceber que funcionava ali um circulo vicioso, onde servidores e até mesmo policiais se ‘confraternizavam’ com os sócios-educandos. Sempre tinha aquele interno que ia até a assistente social se queixando que tinham lhe furtado o lençol ou então a toalha de banho e que estava precisando de tudo novamente. Então eu era chamada a fornecer os materiais solicitados. E aí surgia o comércio. Tudo eles vendiam a baixo custo a alguns servidores corruptos, desde sabonetes, barbeadores, creme dental como também cobertores, toalhas, sandálias, camisetas e bermudas.
Quando percebi que isso acontecia ali, passei várias noites em claro pensando qual seria a estratégia que usaria para combater aquele desperdício de dinheiro público. Tinha que ser uma medida a ser executada devagar e que não causasse grande impacto. Mas como caminhar e agir de forma correta num local que parecia mais um campo minado? Onde as maiorias dos servidores teriam que ser trocados e, neste caso, muitos teriam que ser demitidos? Estavam envolvidos naquela corrupção desde agentes de limpeza, cozinheiras, educadores, monitores e o pior de tudo; policiais. Como provar que muitas coisas aconteciam no Centro quando ninguém estava disposto a se comprometer?
Quem deveria tomar alguma atitude, ou não tinha conhecimento ou se faziam de desentendidos, era a Coordenação e o corpo técnico. Percebendo que tinha que começar por eles então solicitei uma reunião.
Podem me perguntar; “mas por que você vai se intrometer nesta situação? faça só o seu trabalho e pronto”. A questão se chamava ‘prestação de contas’. Controle de estoque. Havia a média de quantitativo de internações mensais, então já existia uma meta, planilha de custos e tudo o mais para garantir as necessidades dos jovens, então os materiais não poderiam faltar, e caso faltassem eu teria que prestar contas. Dessa forma e pensando também em zelar pelo meu bom nome, aguardei ansiosa até o dia da reunião e quando aconteceu, percebi que o assunto já não era surpresa para a Coordenação, e que também já haviam tentado tomar providencias com relação ao fato, mas que todos os esforços tinham sido em vão.
Diante do fracasso da reunião decidi começar a fazer um trabalho à revelia, do meu jeito e sem que provocasse muitos conflitos. Paciência e jeito de trabalhar com o público eu tinha, então este seria o caminho a ser traçado para alcançar o objetivo. Não elaboraria nada em papel, muito menos criaria mais normas e regras. Criei dentro de mim um grito de guerra; Para cada dia uma ação, para cada ação o entrosamento de diálogo, em cada diálogo a injeção de educação. Com este objetivo, me preparei para interagir primeiramente com os funcionários, a começar pela cozinha. Comecei com pequenas conversas, abrangendo a higiene do espaço e a necessidade de transformá-lo como se fosse um cômodo de casa. Também destaquei o compromisso de evitar desperdício de material, evidenciando que tudo que era gasto ali, tanto para a manutenção do Centro quanto para o consumo diário dos internos, era retirado do nosso bolso quando pagávamos os impostos; que era tolice pensar que aquilo não era problema nosso já que suávamos a camisa todos os dias para ganhar o pão do dia-a-dia e que na verdade era o nosso dinheiro que estava 'esvaindo pelo ralo'.
Em um primeiro momento foi difícil, mas a luz aos pouco foi acendendo e iluminando a mente das copeiras e cozinheiras. Percebi que seria difícil, mas não tanto quanto eu imaginava... E para tanto, deixaria minhas mangas sempre arregaçadas...
Vale ressaltar aqui que minha principal atividade seria cuidar da parte física do Centro, bem como do seu bom funcionamento e também da assiduidade dos servidores. Era de minha responsabilidade também o controle de estoque de alimentos, almoxarifado e cuidados quanto à higienização e conservação do espaço físico. Organizar as escalas dos plantonistas, cronogramas com os dias e horários das saídas dos jovens, no que não poderia faltar o veículo, os educadores e assistentes sociais que acompanhariam o interno caso houvesse audiência com o juizado da infância, consultas médicas, sem falar nas atividades externas como cursos, escolas e também visitas a familiares, para aqueles que tinham boa conduta.
Em um primeiro momento pensei que não daria conta do trabalho, mas com organização e responsabilidade tudo estava caminhando a contento, porém como não há nada que funcione totalmente à perfeição, principalmente quando se trata de órgão público, meu desempenho começou a esbarrar em alguns empecilhos sendo um deles a falta de compromisso da guarda policial, quando era necessário escolta para acompanhar os sócios-educandos para os compromissos externos. Eles sabiam da necessidade e de suas responsabilidades, mas sempre faziam corpo mole ou então de desentendidos. Mesmo repassando antecipadamente a escala dos compromissos agendados para o mês, sempre tinha que me dirigir até o corpo de guarnição para reiterar o pedido; outro fato que me deixava um tanto irritada era quando tinha que adentrar nos alojamentos para verificar algum dano, às vezes hidráulico ou elétrico e até mesmo a questão de material de higiene e de cama, era necessário que me fizesse acompanhar de monitores para as averiguações, e era dificultoso encontrar quem tivesse coragem ou se dispusesse a tal proeza. Comecei a perceber por que era tão difícil a permanência de administradores por muito tempo no Centro.
A lei dos Direitos da Criança e do Adolescente prevê que quando em regime de internação é dever do Estado suprir todas as necessidades do menor tais como alimentação, material escolar e de higiene, roupa para cama e banho e quando há aqueles com familiares com baixo custo financeiro, até mesmo vestimentas e calçados.
Não precisei de muito tempo para perceber que funcionava ali um circulo vicioso, onde servidores e até mesmo policiais se ‘confraternizavam’ com os sócios-educandos. Sempre tinha aquele interno que ia até a assistente social se queixando que tinham lhe furtado o lençol ou então a toalha de banho e que estava precisando de tudo novamente. Então eu era chamada a fornecer os materiais solicitados. E aí surgia o comércio. Tudo eles vendiam a baixo custo a alguns servidores corruptos, desde sabonetes, barbeadores, creme dental como também cobertores, toalhas, sandálias, camisetas e bermudas.
Quando percebi que isso acontecia ali, passei várias noites em claro pensando qual seria a estratégia que usaria para combater aquele desperdício de dinheiro público. Tinha que ser uma medida a ser executada devagar e que não causasse grande impacto. Mas como caminhar e agir de forma correta num local que parecia mais um campo minado? Onde as maiorias dos servidores teriam que ser trocados e, neste caso, muitos teriam que ser demitidos? Estavam envolvidos naquela corrupção desde agentes de limpeza, cozinheiras, educadores, monitores e o pior de tudo; policiais. Como provar que muitas coisas aconteciam no Centro quando ninguém estava disposto a se comprometer?
Quem deveria tomar alguma atitude, ou não tinha conhecimento ou se faziam de desentendidos, era a Coordenação e o corpo técnico. Percebendo que tinha que começar por eles então solicitei uma reunião.
Podem me perguntar; “mas por que você vai se intrometer nesta situação? faça só o seu trabalho e pronto”. A questão se chamava ‘prestação de contas’. Controle de estoque. Havia a média de quantitativo de internações mensais, então já existia uma meta, planilha de custos e tudo o mais para garantir as necessidades dos jovens, então os materiais não poderiam faltar, e caso faltassem eu teria que prestar contas. Dessa forma e pensando também em zelar pelo meu bom nome, aguardei ansiosa até o dia da reunião e quando aconteceu, percebi que o assunto já não era surpresa para a Coordenação, e que também já haviam tentado tomar providencias com relação ao fato, mas que todos os esforços tinham sido em vão.
Diante do fracasso da reunião decidi começar a fazer um trabalho à revelia, do meu jeito e sem que provocasse muitos conflitos. Paciência e jeito de trabalhar com o público eu tinha, então este seria o caminho a ser traçado para alcançar o objetivo. Não elaboraria nada em papel, muito menos criaria mais normas e regras. Criei dentro de mim um grito de guerra; Para cada dia uma ação, para cada ação o entrosamento de diálogo, em cada diálogo a injeção de educação. Com este objetivo, me preparei para interagir primeiramente com os funcionários, a começar pela cozinha. Comecei com pequenas conversas, abrangendo a higiene do espaço e a necessidade de transformá-lo como se fosse um cômodo de casa. Também destaquei o compromisso de evitar desperdício de material, evidenciando que tudo que era gasto ali, tanto para a manutenção do Centro quanto para o consumo diário dos internos, era retirado do nosso bolso quando pagávamos os impostos; que era tolice pensar que aquilo não era problema nosso já que suávamos a camisa todos os dias para ganhar o pão do dia-a-dia e que na verdade era o nosso dinheiro que estava 'esvaindo pelo ralo'.
Em um primeiro momento foi difícil, mas a luz aos pouco foi acendendo e iluminando a mente das copeiras e cozinheiras. Percebi que seria difícil, mas não tanto quanto eu imaginava... E para tanto, deixaria minhas mangas sempre arregaçadas...