Big Brother
Estamos no momento da troca de presidentes no espaço do nosso Big Brother do norte. Na verdade um espaço muitíssimo mais amplo que o delimitado por suas fronteiras. E é farto o noticiário na mídia brasileira a respeito dessa prática que todos entendemos por democrática. As convenções em que são escolhidos tanto o candidato democrata quanto o republicano têm espaço garantido em nossa mídia. E uma esmerada cobertura.
Em recente viagem a alguns países da Europa, bem que fiquei procurando, quando chegava ao quarto do hotel, por notícias na TV a respeito do Brasil. E nada. Não vi nenhuma. De qualquer modo, devo me considerar um privilegiado. Porque pude viajar ao exterior e ter acesso em todos os hotéis à TV a cabo ou por assinatura.
Em contrapartida, um dos nossos big brothers que chegue por aqui não precisa ligar a TV em seu hotel para ter informações a respeito da campanha presidencial em seu país. Basta comprar um jornal na banca da esquina. E verificar quem está na frente ou é o mais cotado.
Trata-se de uma perspectiva terceiro-mundista mais do que natural. Não fabricamos porta-aviões nucleares, nem mísseis de longo alcance acionados por controle remoto; não conseguimos mandar ninguém à lua; não entramos em nenhum país sem pedir licença para caçar um terrorista em especial; não sustentamos líderes despóticos em lugar nenhum, ajudando-os a bombardear alvos civis, a cortar o fornecimento de água e energia elétrica da cidade sob o seu domínio ou a bloquear o envio de ajuda às pessoas desabrigadas, como aconteceu em Kabul, por volta de 1992.
O que temos feito é ganhar algumas copas do mundo de futebol, exportar uma música de qualidade incontestável e termos inventado o avião, o que não é reconhecido por todos. Claro que temos muitos outros feitos, porque um país como o nosso, de grandes cientistas, inventores, escritores, artistas e homens públicos, não pode passar assim tão despercebido. Não estamos atrás, contudo, de uma disputa por mais ou menos importância. Cada um com o seu quadrado.
O que chama a atenção no momento é que essa disputa presidencial, até pela conjuntura do seu interesse universal, reveste-se de um caráter talvez apenas emblemático. Isto é, haverá uma alternância de poder, mas não nos desígnios que determinam uma política externa fundamentada no pressuposto de que “somos líderes porque a natureza e a história nos obrigou a isso”, no dizer de Colin Powell, como a gente já leu por aí (pp. 73, World Orders Old and New, de Noam Chomsky).
Rio, 05/09/2012