CRÔNICA CURTÍSSIMA: TPM
O cara está em casa, sossegado, lendo.
A mulher entra, bruscamente, como polícia em boca de fumo. Dá um suspiro, joga a bolsa na mesa de qualquer jeito, apoia a mão na cadeira e olha pro chão.
Cometo o erro de perguntar:
- Tá de TPM?
Ela arregala os olhos e diz:
- Pronto, já começou! A pessoa chega em casa, cansada de um dia de trabalho, e ainda tem que ouvir uma dessas!
Cometo o segundo erro inaceitável, falando alto pra mim mesmo:
- Ela está de TPM...
Ela para em frente a mim, braços cruzados, pé esquerdo martelando:
- Você já vem me pintar do que não existe! Com essa sua coisa de escritor, inventa uma personagem! Não será o SEU estresse por conta da polícia? Eu NÃO estou de TPM! Que saco!
Toma banho, janta calada e vai dormir.
No dia seguinte, a mesma coisa. No terceiro dia, também.
No quarto dia ela chega, leve, maneirinha, um colibri de rara ternura.
Brincando com o perigo, pergunto:
- A TPM passou?
- Passou...
- E por que, quando eu perguntei, você não admitiu que estava de TPM?!
- Porque, quando você perguntou, eu estava...
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