SAUDADE OU SAUDOSISMO?
Maria Tomasia
Maria Tomasia
Hoje eu fui ao supermercado e uma grande saudade apertou o meu peito. Saudade dos tempos das vendas, e das anotações nas cadernetas que seriam pagas pontualmente todo final de mês, em total e absoluta confiança do dono. As anotações das compras eram feitas a lápis, sem preocupação de que pudessem ser adulteradas pelo comprador.
Quando íamos à venda, já sabíamos tudo o que precisávamos, do café em grão para torrar em casa, até o macarrão furadinho para ensopar com galinha caipira ou, então, a macarronada feita com extrato de tomate e muito queijo parmesão ralado na hora, macio, perfumado, delicioso.
Após caminhar pelos extensos corredores do supermercado com uma variedade incrível de alimentos, pensei naquelas vendas e até o cheiro delas pude sentir.
Hoje, os supermercados cada vez maiores têm de tudo, mas nós, donas de casa, ficamos cada vez mais perdidas diante de tanta variedade e acabamos comprando o que não queremos e deixando de comprar aquilo de que, realmente, temos necessidade.
Tudo vem empacotado e embalado, até as verduras - que no meu tempo eram adquiridas diretamente daqueles que as plantavam, fresquinhas, viçosas, sem agrotóxicos - hoje ficam expostas nas prateleiras ou gôndolas, já embaladas. O seu sabor deixa muito a desejar, se comparado àquelas colhidas na hora: couves, alfaces, tomates, pimentões, repolhos, tudo fresquinho e com cheiro de verdura. Ao entrarmos numa horta, nossas narinas eram homenageadas com aqueles deliciosos aromas.
Tudo era comprado fiado e ninguém deixava de pagar tão logo saía o ordenado.
No açougue era a mesma coisa: carnes variadas, de boi e de porco, toucinho e linguiças puras e bem temperadas, penduradas em varais para secar, uma delícia!
O fubá, ah, esse vinha direto do moinho movido a água, de uma coloração quase alaranjada que era transformado no angu de todo dia e a fubarina, a parte interna e delicada do milho alimentava o bebê com o mais rico e gostoso mingau.
As crianças de antigamente eram sadias, devido à alimentação rica e fresca e dificilmente iam ao médico - só nos casos extremos de verminose, coqueluche, sarampo, ou febre desconhecida, mas, mesmo assim, quando todos os recursos caseiros se esgotavam.
Se comparar os supermercados de hoje, enormes, abarrotados de mercadorias sempre com conservantes e as vendas de antigamente, confesso que gostaria de voltar no relógio do tempo, ainda que fosse por um único dia, só para matar a saudade.
RJ, 04/09/12
Quando íamos à venda, já sabíamos tudo o que precisávamos, do café em grão para torrar em casa, até o macarrão furadinho para ensopar com galinha caipira ou, então, a macarronada feita com extrato de tomate e muito queijo parmesão ralado na hora, macio, perfumado, delicioso.
Após caminhar pelos extensos corredores do supermercado com uma variedade incrível de alimentos, pensei naquelas vendas e até o cheiro delas pude sentir.
Hoje, os supermercados cada vez maiores têm de tudo, mas nós, donas de casa, ficamos cada vez mais perdidas diante de tanta variedade e acabamos comprando o que não queremos e deixando de comprar aquilo de que, realmente, temos necessidade.
Tudo vem empacotado e embalado, até as verduras - que no meu tempo eram adquiridas diretamente daqueles que as plantavam, fresquinhas, viçosas, sem agrotóxicos - hoje ficam expostas nas prateleiras ou gôndolas, já embaladas. O seu sabor deixa muito a desejar, se comparado àquelas colhidas na hora: couves, alfaces, tomates, pimentões, repolhos, tudo fresquinho e com cheiro de verdura. Ao entrarmos numa horta, nossas narinas eram homenageadas com aqueles deliciosos aromas.
Tudo era comprado fiado e ninguém deixava de pagar tão logo saía o ordenado.
No açougue era a mesma coisa: carnes variadas, de boi e de porco, toucinho e linguiças puras e bem temperadas, penduradas em varais para secar, uma delícia!
O fubá, ah, esse vinha direto do moinho movido a água, de uma coloração quase alaranjada que era transformado no angu de todo dia e a fubarina, a parte interna e delicada do milho alimentava o bebê com o mais rico e gostoso mingau.
As crianças de antigamente eram sadias, devido à alimentação rica e fresca e dificilmente iam ao médico - só nos casos extremos de verminose, coqueluche, sarampo, ou febre desconhecida, mas, mesmo assim, quando todos os recursos caseiros se esgotavam.
Se comparar os supermercados de hoje, enormes, abarrotados de mercadorias sempre com conservantes e as vendas de antigamente, confesso que gostaria de voltar no relógio do tempo, ainda que fosse por um único dia, só para matar a saudade.
RJ, 04/09/12