Plataforma política
Antes, candidato tinha nome e sobrenome. Alguns se valiam de nomes de parentes para fazer referência às suas raízes ou ao seu histórico de vida e trabalho. Um nome tradicional ou de destaque já era uma grande vantagem para quem queria entrar na política. Muitos se valiam de apelidos, alguns até apelativos para chamar atenção e conquistar a popularidade entre aqueles que votam. Mas agora a coisa mudou. Lançaram uma moda nova na nossa cidade. Estão compartimentando a eleição, criando segmentos para candidatos que ao invés de usarem seu nome e capacidade como plataforma política, estão usando o setor profissional onde atuam como chamariz do eleitor. É fulano da saúde, sicrano da saúde, fulano do psf, sicrano do SOS, só dá saúde nessa campanha. Isso tudo porque na eleição passada alguns candidatos ligados à área da saúde se deram bem e se elegeram, valendo-se da relação trabalho/paciente que a saúde favorece. Infelizmente, nosso povo tão mal politizado não reconhece que todo e qualquer profissional deve atender da melhor forma possível àqueles que necessitam de seus cuidados, pois é justamente para isso que são pagos. E são pagos exatamente com o dinheiro público, oriundo de nossos salários na dedução de impostos. Todos deveriam ter o melhor atendimento possível em qualquer repartição pública, pois ali trabalham profissionais que nós pagamos e dos quais consequentemente somos todos patrões. Mas a maioria desavisada de nossa classe mais humilde enxerga as ações por eles desempenhadas como um favor prestado, uma espécie de privilégio muitas vezes acima de suas expectativas. Então, levar e trazer doentes para a capital, de repente deixa de ser trabalho remunerado e vira favor, principalmente se o condutor é simpático e bem educado, como se pobre não merecesse ser bem tratado. Daí, a eterna gratidão resgatada nas urnas em tempos de eleição. Conseguir vagas no hospital, remédios na farmácia municipal, encaminhamento de exames e consultas, tudo aquilo que deveria acontecer da forma mais natural possível, de repente é privilégio, dá-se um jeitinho, vira favor que depois se transforma em gratidão, que também se cobra nas urnas. Por isso, a apelação com o setor da saúde, esta saúde que de repente vira sobrenome na campanha política, como se o simples fato de trabalhar nesta área resulte em sucesso no final da campanha. Já imaginaram se as outras áreas de serviços básicos também resolvessem copiar a moda? Vote no João da Educação, no José do INSS, na Maria da Caixa Federal, no Chico do Banco do Brasil, no Glicério do cemitério, no Tenório do velório, no fulano do SAAE, no Juvenal do hospital e assim vai... a concorrência ia ser local, ao invés de pessoal, tal qual deve estar acontecendo na saúde, onde todo mundo adotou o setor como complemento do nome. Melhor do que ostentar o local de trabalho como plataforma política seria se apresentar ao povo como ser humano político e politizado, com visão suficiente para enxergar as mazelas de nossa cidade, seus problemas e possíveis soluções, em todas as áreas que demandam administração, organização, investimento, intervenção e policiamento, para que o bem estar do povo seja garantido e o crescimento de nossa cidade planejado e efetivado, com obras que realmente nos conduzam ao progresso e à ascensão social, cultural, econômica e industrial, um polo de riquezas que já poderíamos ter sido. Chega de ficar levantando bandeira de um segmento só, seja ela da saúde, da educação ou qualquer outro serviço básico. Precisamos de pessoas que tenham visão global de todas as nossas carências e deficiências e que abracem a política como um todo, corpo e alma a serviço do povo, sem cabresto de serviços prestados, mesmo porque, pelo menos aqui, a gente viu que votar em segmento não dá certo. O que a população inteira reclama é justamente da péssima qualidade da saúde em nossa cidade, sendo que é justamente a saúde que tem mais representantes na Câmara Municipal, o que pouco ou nada adiantou. Esperamos uma boa gestão não só na saúde mas em todas as necessidades de nosso município, porque atender bem todos podem, mas fazer política com seriedade e competência, é para poucos... e poucos têm feito ultimamente.