COMO CHOREI

Como chorei naquele instante de angústia de tanto sentimento triste, as lágrimas escorrendo como tromba d água e inundando-me o rosto, os olhos desmesurados, a boca emudecida em sua mordaça de amargura. Era tal qual uma apavorante tempestade desaguando por todo o meu ser, magoando minha alma, rasgando-me o coração, estilhaçando-me o espírito em mil fragmentos doloridos. A brisa chorava comigo, abraçava-me inconsolada, angustiada e tomada de uma melancolia inenarrável, tudo em derredor manchava-se do oceano lacrimal oriundo de minha tristeza, impossível não contagiar a sala, os móveis, as lâmpadas apagadas, as paredes manchadas pelo tempo, o telefone sobre a mesa com o qual acabara de falar com ela, ouvir-lhe a voz convidativa e dizer-lhe "não, não posso, não posso..."

Ajoelhei-me, na verdade caí desolado defronte ao sofá continuando a chorar alto, em abalado desespero, despertando a noite incipiente e toldando o brilho da lua por entre as nuvens, entristecendo as estrelas, assustando os insetos escondidos alhures.Tudo ao redor de mim chorava comigo, até o silêncio calou-se e também se entregou ao lamento afundando no mar de mágoas que me abatia. Afundei o rosto no estofo macio do sofá e deixei-me levar sobremaneira pela emoção, gritando "ó Deus! Ó Deus!" , todavia sabendo de antemão que do caminho difuso do qual eu fugira, ou tentava fazê-lo de maneira quase vã, eu certamente não deixaria de fluir, de seguir em outro momento, de

por ele caminhar em outros interregnos de minha vida.

Eu queria estar lá abraçado a ela, ah deveras desejava isso por demais!, fosse onde fosse, em qualquer lugar do mundo, nas nuvens até, não importava, porém amando-a impetuosamente como realmente a amava, usufruindo de seu corpo belíssimo e quente, que se me entregava, de seus beijos ávidos transbordando de gozo, de seu carinho extraordinário brotando daquelas mãos sedosas cheias de afagos e mimos para mim.

Eu disse não, e no entanto ansiava dizer sim, "vamos, vamos para o vale das delícias, o horizonte dos prazeres, o paraíso do Nirvana, mesmo à margem dum laguinho tranquilo poderemos nos amar como jamais outro casal na existência humana amou, sim eu te quero e desejo de tal maneira insofismável, de tal forma inegável e absoluta que não posso mais negar-me a profundidade desse sentimento que me dá asas, que me arrebata, extasia, encanta, fascina" Incompreensivelmente eu não ousei, eu disse e repeti não tantas vezes, isso não por não te amar, pois amo-te tanto que nem sei explicar, não por não sentir a força inexpugnável da tesão por ti, já que tão-logo te vejo a chama de um fogo ardente como a fornalha dos vulcões toma de conta de mim por inteiro. Ah o desejo afogueado que sinto por ti! Eu disse não porque era necessário dizer não, e você sabia também o quanto era e deveria ser assim.

Quando finalmente a fonte de meu clamor expirou e já não havia mais nenhum pingo de lágrima para derramar, pois secara a fonte, quando o silêncio se fez atordoante e as coisas, os seres vivos, tudo, tudo...tudo calara sob o poder do silêncio mortal, da saudade angustiante de teus olhos cor de esmeralda, das lembranças imperecíveis de teus sorrisos deslumbrantes, do teu cheiro gostoso de flores raras perfumadas pela natureza sábia, quando já estavam afogadas por minhas dolorosos lamentações as evidências de tantas mágoas depositadas e esquecidas em meu coração, quando tudo que, naquele espaço de tempo fulminado pelo horror da tristeza, o pretendido por minha alma era somente te ver, te abraçar calorosamente, beijar-te e ter-te como homem nenhum, em nenhum outrora teve uma mulher, levantei-me e corri ao telefone gritando enquanto discava o seu número "eu quero, eu quero sim, às favas as convenções, chuto as regras e as leis, rasgo os regulamentos, mas tudo que mais quero é estar ao teu lado, pixar as proibições, rir do que for proibido, dizer ao mundo que a ti, tão-somente a ti que amo!"

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/09/2012
Reeditado em 03/09/2012
Código do texto: T3864105
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