A dor da vida

De onde ela vem?A minha dor parece que vem do fundo da terra e que passa pela planta dos meus pés; sobe por minhas pernas, fica intensa ao subir pela coluna, como se estivesse querendo corroer os meus ossos, meus nervos, extinguir meu sangue, minha força. Mas, nada se compara quando chega ao coração, neste órgão tão vital e tão romântico, ela se expande e, torna-se ainda maior. Fico imaginando a dor de alguém torturado, atravessado por uma lança, uma espada ou atingido por uma arma de fogo. Fico imaginando a dor de alguém que sofre por amor, porque perdeu um ente querido, fosse ele um filho, um marido ou, apenas, um amigo. Aquele amigo que sempre estava por perto, que lhe fazia sorrir, mas que lhe tirava as horas de sono também. A dor quando se espalha é como um ácido, um veneno que corre pelas veias do nosso corpo, e que geralmente, é percebida pelo olhar, pela cabeça baixa porque o pescoço parece não querer levantar o suficiente, porque não há força e nem vontade. Por que ela existe? É, acaso, algum indício de sentimento? E que sentimento é esse? Saudade? Tristeza? Solidão? Arrependimento? Ou, apenas é a dor, pura e simplesmente? A dor..de Ser humano? Mas, e os outros seres? Eles também sentem dor e medo. Você já percebeu os olhos de um animal acuado e assustado? Toda vez que vejo um olhar assim, é como se eu estivesse em seu lugar. Não consigo ignorar. A dor é compartilhada no mesmo instante. Também fico imóvel, com medo. Pelo meu corpo passa um leve tremor, que aos poucos se transforma em agonia, e depois em desespero. Desespera. Sem espera. Sem esperança. O olhar procura um alento, uma ajuda. No entanto, esta ajuda não vem. Todos estão ocupados vivendo, sobrevivendo ou morrendo, porque morrer também ocupa o tempo. Morrem, todos os dias, aqueles que não conservam sua mente. Morrem a cada dia, aqueles que envenenam seus corações. Morrem a cada instante, os que desperdiçam suas energias com traições sexuais e conspirações sem sentido. A diferença é que morrem sem dor. Morrem sem sentir, sem perceber. Quando penso nisso, agradeço pela minha dor, porque ela me indica que ainda estou viva. É a dor da vida.