Positano
 
Em ruas curvas e íngremes de intermináveis ladeiras, de repente, em um trecho, dá passagem para um só carro... Bem junto do paredão está um espelho que nos mostra quem vem além da curva. Um susto, suspiro de alívio e vamos em frente, porque afinal, quem já dirigiu no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte e não comprou a carteira de habilitação, está habilitado para dirigir em qualquer lugar do mundo, aliás, é bom frisar, nossa habilitação é internacional e assim permite.
Lá embaixo da falésia que nós estamos contornando, curva à curva, o mar azul nos espera, resplandecendo ao sol brilhante.
De repente, sem que precisássemos de qualquer GPS para nos indicar, o que aliás não funciona bem  por lá, está no lado direito da rua o nosso hotel e no lado esquerdo, o mar, na mesma rua em que estamos, que serpenteia ladeira abaixo  na ânsia de encontrá-lo.
Chegar ao hotel depois de viajar de barco entre Capri e Sorrento e de lá, após esperar mais de uma hora para pegar o carro na agência de locação, uma paradinha para banho e breve descanso na caminha limpa, é tudo de bom, mesmo porque, depois, Positano estará toda à nossa disposição para ser muito bem explorada.
Rua fina em ladeira de mão dupla, com tráfego de ônibus e sem recuo para estacionar, onde e como parar?
Em cima da calçada, naturalmente e seja o que Deus quiser.

Percebemos que fizemos o óbvio e o que todos fazem, quando o empregado do hotel veio para carregar nossas malas e ficar com a chave do carro para levá-lo ao estacionamento, cem metros adiante, junto da primeira curva da rua. Ao repassar a gorjeta, que em italiano se denomina propina ao rapaz do hotel, dei-lhe uma moeda de um euro e mais uma moeda nossa de vinte e cinco centavos de real, que faz um tremendo sucesso no exterior.
Certa vez, quando estávamos no Marrocos, no hotel de Marrakesh e ao dar a gorjeta, notei que não tinha moedas do local, que é o dirhan e então dei ao rapaz, cinco dessas nossas moedas de um quarto de real. Ele olhou admirado para  as moedas, novinhas, feitas daquele metal dourado e brilhante e perguntou em espanhol:
- Oro?
Pego de surpresa e para não decepcioná-lo, de imediato balancei a cabeça em assentimento. Com um largo sorriso ele embolsou-as alegremente.
Elas devem estar guardadas no seu cofrinho até hoje... Uma fortuna!

Ou então, descoberto que foi enganado, deve ter dito: - que coroa mentiroso!
 Mas a breve ilusão de possuir tamanha riqueza já o fez feliz...
Pedimos ao rapaz informação de onde comer bem, frutos do mar e vinho,naturalmente, e ele providenciou pessoalmente para uma Van nos levar na hora aprazada ao Ristorante Scirocco.
Depois de comer uma caldeirada de frutos do mar, deliciosamente apimentada e saborear um maravilhoso vinho branco, comentei com minha mulher o milagre que faz uma moeda dourada de um quarto de real...
Na manhã seguinte fomos explorar as ladeirinhas de Positano que desembocam na praia, onde cada centímetro quadrado é disputadíssimo.
Não queríamos ir à praia para um mergulho, simplesmente pisarmos na areia para sentirmos a água fria de um azul cristalino  do Mediterrâneo sob os nossos pés.
Lojinhas, lojinhas e mais lojinhas que levam o regalo aos olhos dos turistas e que encantam sobretudo as mulheres.
Foi em Positano que escrevi: "O soneto do meu canto"  que mostro a seguir.
 
Se meu canto é quase um pranto,
Só me resta é prantear...
Se com meu canto não encanto,
Eu pergunto, pra que cantar?
 
Um canto que a alma embala,
Sempre é feito pra encantar...
Porque é uma alma quem fala,
Pra outra alma escutar...
 
Quero ter a capacidade
De produzir o encantamento,
De fazê-la sorrir ao recitar...
 
Que nos meus versos até a saudade,
Lhe aponte, no firmamento,
Que a gente foi feita pra amar...