António Lobo Antunes, neste seu aniversário a surpresa...
"Para mim o Brasil não é um país: é um cheiro, um gosto, são cores, os doces de minha avó (o escritor tem descendência brasileira). É o lugar onde o meu avô está por toda parte." Disse Lobo Antunes no nosso encontro na Flip 2009. Uma grata surpresa para mim e para os seus leitores extasiados com a sua fala. E, ele, ainda foi mais longe ao tecer elogios a obra de Paulo Mendes Campos, Lobo Antunes, afirmou que, João Cabral de Melo Neto é o maior poeta da língua portuguesa do século passado. "Quem quer começar a escrever deve ler muita poesia. A gente aprende muito com ela. Lá, cada palavra tem uma força" Ana Marly de Oliveira Jacobino
Não faço aqui uma biografia, mas apenas um pouco de "lembranças" deste grande escritor.
Nasce a 1 de Setembro de 1942, em Lisboa, filho de Maria Margarida Almeida Lima e João Alfredo Lobo Antunes. Já em 1965 Começa a escrever um romance (nunca publicado) que trabalhará ao longo de dez anos. Por esta altura conhece autores americanos como Fitzgerald, Melville e Faulkner.
Em 6 de Janeiro de 1970, é recrutado para o exército, para cumprir o serviço militar, donde sairia como alferes miliciano, mais tarde promovido a tenente. Casa com Maria José Xavier da Fonseca e Costa, em 1 de Agosto, após um namoro de seis anos.
E por coincidência a 6 de Janeiro de 1971, embarca para Angola, um dos teatros de operação da guerra colonial. É nestas condições que viria a firmar uma longa amizade e cumplicidade com o então capitão Ernesto Melo Antunes. Neste ano nasce a sua filha Maria José, em Junho.
António Lobo Antunes começou por utilizar o material psíquico que tinha marcado toda uma geração: os enredos das crises conjugais, as contradições revolucionárias de uma burguesia empolgada ou agredida pelo 25 de Abril, os traumas profundos da guerra do ultramar e o regresso dos portugueses do ultramar à pátria primitiva. Isto permitiu-lhe, de imediato, obter adesão junto de uma certa facção de leitores, que, no entanto, não foi acompanhado pelo lado da crítica.
António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se numa temática concreta, adensou-se sem grande eficácia narrativa, ganhou em espessura e perdeu em novidade, compensando isto com recurso ao confronto e ao choque. De um modo impiedoso e obstinado, o autor trata a sua visão distorcida sobre o Portugal do século XX.
A sua obra prosseguiu numa contínua renovação linguística, tendo os seus romances seguintes (Exortação aos Crocodilos, Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura, Que Farei Quando Tudo Arde?, Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo), bem recebidos pela crítica, marcando definitivamente a ficção portuguesa dos últimos anos. Lobo Antunes tem uma escrita densa. O leitor tem algum esforço de leitura porque, por exemplo, não é raro haver mudanças de narrador e assim o leitor tem tendência a «perder o fio à meada». No entanto apesar de não ser um autor que opte por uma escrita fácil, Lobo Antunes constitui um fenómeno de vendas . Os livros de Lobo Antunes são muito obsessivos e labirínticos dando um tom geral de claustrofobia e paranoia às suas obras. Esta obsessividade gira completamente em torno da sua relação com a mulher, mesmo que tal não seja diretamente referido.
A Vaidade e a Inveja Desaparecem com a Idade
Com o passar do tempo, há dois sentimentos que desaparecem: a vaidade e a inveja. A inveja é um sentimento horrível. Ninguém sofre tanto como um invejoso. E a vaidade faz-me pensar no milionário Howard Hughes. Quando ele morreu, os jornalistas perguntaram ao advogado: «Quanto é que ele deixou?» O advogado respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos.
António Lobo Antunes, in "Diário de Notícias (2004)"
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