Leitura de textos selecionados pelo CONCURSO PÚBLICO - edital nº 001/2009. UFSJ. cargos técnicos-administrativos.
No primeiro ano de faculdade aprendi um truque que muito me auxiliou na hora de obter notas melhores. Descobri que, numa prova na qual cai um tema que você não estudou, que o pegou de surpresa, sobre um assunto de que você não sabe absolutamente nada, o melhor é não entregá-la em branco, que seria a coisa mais lógica e correta a fazer. Nessas horas, escreva sempre alguma coisa, preencha o papel com abobrinhas, pois quanto maior o número de páginas, melhor. Isso porque existem dois tipos de professor no Brasil: um deles é formado pelos que corrigem de acordo com o que é certo e errado. São geralmente professores de engenharia, produção, direito, matemática, recursos humanos e administração. Escrever que dois mais dois podem ser três ou doze, dependendo “da interpretação lógica do seu contexto histórico desconstruído das forças inerentes”, não comove esse tipo de professor. Ele dá nota dependendo do resultado, e fim de papo.
Mas, para a minha alegria, e agora também a sua, existe outro tipo de professor, mais humano e mais socialmente engajado, que dá nota segundo o critério de esforço despendido pelo aluno e não apenas pelo resultado. Se você escreveu dez páginas e disse coisas interessantes, mesmo que não pertinentes ao tema, ficou as duas horas da prova até o fim, mostrou esforço, ganhará uns pontinhos, digamos uma nota 3 ou até um 3,5. O que pode ser a sua salvação. Na próxima prova você só precisará tirar um 6,5 para compensar, e não uma impossível nota 10. Se você estudar um mínimo e usar esse truque, vai tirar um 5.
Uma vez formados, os alunos desse tipo de professor são muito fáceis de identificar. Seus textos são permeados de abobrinhas e mais abobrinhas, cheios de platitudes e chavões. Defendem que a renda deve ser distribuída pelo esforço, e não pelo resultado, e que toda criança que compete deve ganhar uma medalha. Defendem que todo professor de universidade deve ganhar o mesmo salário, independentemente da qualidade das aulas, e que a solução para a educação é mais e mais verbas do governo, sem nenhuma avaliação de desempenho.
Esses dois tipos de professor obviamente não se bicam. É a famosa briga da turma da filosofia contra a turma da engenharia. São as duas grandes visões políticas do mundo, é a diferença entre administração pública e privada. O que é mais justo, remunerar pelo esforço de cada um ou pelos resultados alcançados? O que é mais correto, remunerar pela obediência e cumprimento de horário ou pelas realizações efetivas com que cada um contribuiu para a sociedade?
Como o Brasil ainda não resolveu essa questão, não podemos discutir o próximo passo, que são as injustiças da opção feita. É justo só remunerar pelo resultado? É justo remunerar somente pelo esforço? Podemos até escolher um meio-termo, mas qual será a ênfase que daremos na educação dos nossos filhos e na avaliação de nossos trabalhadores? Ao esforço ou ao resultado?
Quem tentou ser útil à sociedade mas fracassou teria direito a uma “renda mínima”? É justo dar 3,5 àqueles cujo esforço foi justamente enganar seus professores e o “sistema”? Não seria justo dar-lhes um sonoro zero? Precisamos optar por uma sociedade justa ou uma sociedade eficiente, ou podemos ter ambas?
Como aluno, eu tive de me esforçar muito mais para as provas daqueles professores carrascos, que avaliavam resultados, do que para as provas dos professores mais bonzinhos. Quero agradecer publicamente aos professores “carrascos” pela postura ética que adotaram, apesar das nossas amargas críticas na época. Agora entendo por que tantos de nossos cientistas e professores pertencem à Academia de Letras, por que somos o último país do mundo em termos de patentes, por que tantos brasileiros recebem sem contribuir absolutamente nada para a sociedade e por que nossos políticos falam e falam e não realizam nada.
Que sociedade é mais justa, aquela que valoriza as boas intenções e o esforço ou aquela que valoriza os resultados? Uma boa pergunta para começar a discutir no retorno às aulas.
Stephen Kanitz é formado pela Harvard Business School (www.kanitz.com.br)
Revista Veja, Editora Abril, edição 2073, ano 41, nº 32, 13 de agosto de 2008, página 28
FONTE: http://www.kanitz.com/veja/sociedade.asp ou http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/progp/NE_Editor_de_Publicacoes.pdf
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EDITORES, BONS LEITORES
Ana Laura Gallardo
A palavra “edição” tem múltiplas acepções. O Dicionário da Língua Espanhola da RAE mostra uma enorme lista de significados da palavra: “produção impressa de exemplares de um texto […], conjunto de exemplares de uma obra impressos de uma só vez […], coleção de livros que têm características comuns […], impressão ou gravação de um disco ou de uma obra audiovisual […], cada uma das sucessivas
tiragens de um periódico […], emissão de vários programas informativos de rádio ou televisão […], celebração de determinado evento […]”, etc. Mas qual é o nosso trabalho? O do editor de publicações? Estou convencida de que um editor é, a todo momento, um bom leitor, nos sentidos metafórico e literal da palavra.
Um editor é aquela pessoa capaz de “fazer uma boa leitura do mercado”, alimentando-se das publicações existentes, pensando sobre aquelas que não existem, mas que seria interessante que existissem, e “lendo” os interesses e necessidades do público ávido de novas publicações.
Mas não deve estar atento só a isso, como também deve “ler”, no sentido literal da palavra. Um editor vende conteúdos, nos quais deve estar imerso, assim como saber o que há por detrás das capas dos livros.
Um editor deve, além disso, fazer uma boa leitura da infinita oferta de autores existentes e estar à caça de novos talentos que possam criar um produto (porque, definitivamente, o livro é também um produto) surpreendente e acima da média.
O editor não é um simples revisor de estilo porque deve se colocar no lugar do escritor, e não cumprir normas idênticas para todos, como faria o revisor. O editor está em constante e permanente contato com a matéria-prima do escritor, sendo capaz de fazer uma leitura crítica e positiva do original e propondo alterações devidamente fundamentadas que constituam um benefício para aumentar a qualidade do original. Por isso, deve ser um “bom leitor” do material que está editando (o editor está editando desde a concepção do projeto) e tomar a suficiente
distância do autor e, muitas vezes, de sua própria figura de editor, para ler como se fosse o leitor final do livro.
Além disso, o editor é a pessoa que cria seus próprios projetos editoriais, levando em conta sua leitura do mercado. Plasma suas ideias em um projeto, levando em conta todas as dificuldades que tem a edição de uma publicação. Ele não pode deixar nada de lado: avaliar, fazer cálculos econômicos, pensar no conteúdo, no autor, no design, no marketing, na venda, na distribuição.
Mas, muitas vezes, esse projeto editorial precisará da “boa leitura” de outros leitores” críticos e distantes, que façam uma leitura objetiva e positiva do projeto, definindo quais são seus pontos fortes e fracos.
O editor é aquele que cumpre um papel de protagonista em todo o processo de edição, desde a criação do projeto até a colocação do livro nas livrarias. É quem elege e tem contato com o autor e sua obra, é quem decide sobre a imagem da publicação e trabalha com os editores de arte ou designers para oferecer uma “boa leitura” visual do produto, é quem escreve os textos de contracapa e orelhas,
compila, seleciona, recorta, sugere; é quem avalia custos, decide sobre tintas, impressões, papel, faz o plano de marketing da publicação, é quem decide a distribuição e o preço.
O editor é um empresário de produtos culturais que intervém em cada um dos
passos do processo de publicação de um livro, sempre tendo presente que não é um escritor, nem um designer, nem um revisor, é um “bom leitor” que poderia responder a uma questão como esta:
– Qual é sua profissão?
– Editor.
– Tenho uns escritos que quero publicar. Você poderia me ajudar?
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In: Editores, buenos lectores, ano 1, n. 0, jul., 2008. Tradução Ana Elisa Ribeiro -
UFSJ - Concurso Público - Edital Nº 001/2009 CONHECIMENTO ESPECÍFICO - NÍVEL E - 25 questões UFSJ - Concurso Público - Edital Nº 001/2009 CONHECIMENTO ESPECÍFICO - NÍVEL E - 25 questões.
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O PROCESSO EDITORIAL DE UM PERIÓDICO CIENTÍFICO
Silvana Schultze
O processo editorial de um periódico científico varia de título para título, estando
vinculado às características da unidade publicadora, seja ela uma sociedade,
organização ou entidade de classe, departamento de uma universidade pública ou
particular ou uma editora.
Este processo, no entanto, possui fases específicas, comuns a qualquer
organização, que podem ser descritas, no caso de um periódico científico impresso,
como:
(a) definição de projeto gráfico, fase necessária no momento de lançamento da
primeira edição do periódico e que define os layouts de capa e de miolo;
(b) recebimento de artigos, fase na qual a pessoa responsável pelo periódico
encarrega-se de receber e organizar os artigos candidatos à publicação;
(c) avaliação de artigos, fase em que os artigos recebidos são analisados, seja pelo
próprio editor acadêmico, por membros do Conselho Editorial/Científico ou da
Comissão Editorial, ou mesmo por pareceristas, contratados ou convidados, pelo
sistema blind review ou não;
(d) preparação de artigos, fase composta por revisão dos originais dos artigos e
normalização, realizada por revisores especializados ou pelo próprio editor
acadêmico;
(e) editoração, fase na qual os artigos são diagramados eletronicamente conforme
o padrão gráfico estabelecido anteriormente, pelo próprio editor acadêmico, pessoas
ligadas a ele ou então empresas especializadas;
(f) acompanhamento gráfico, fase na qual o editor acadêmico ou a pessoa
responsável pela produção editorial e/ou gráfica do periódico verifica a adequação
da impressão às características preestabelecidas, sendo ainda responsável pela
aprovação da prova heliográfica.
Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, jul./dez. 2005.
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AVALIAÇÃO DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
Silvana Schultze
Com o crescente número de títulos lançados a cada ano, torna-se cada vez mais
difícil para um periódico científico sobressair em meio à grande massa de
publicações produzidas e consolidar-se de forma reconhecida pela comunidade
acadêmica. Para que isso ocorra, é necessária a utilização de instrumentos de
avaliação que permitam a classificação dos títulos, oferecendo à comunidade
acadêmica subsídios para identificar os periódicos científicos que melhor sirvam aos
seus interesses.
Para Krzyzanowski e Ferreira (1998, p. 45), pode-se obter parâmetros a respeito
da qualidade de um periódico científico pela mensuração dos aspectos relacionados
ao seu conteúdo, cuja qualidade determina o mérito do título, e de normalização, cujo rigor tornou-se imprescindível, pois “os sistemas automatizados necessitam que os dados estejam em perfeita sintonia com as normas, para que os computadores possam interpretar eletronicamente os dados”.
No que diz respeito ao conteúdo, a avaliação de periódicos deve levar em conta os seguintes aspectos (KRZYZANOWSKI; FERREIRA, 1998, p. 45):
1. qualidade dos artigos (nível científico; atualidade; identificação com a orientação temática da revista; percentual de artigos originais);
2. qualidade do corpo editorial e dos consultores (participação de membros da comunidade nacional e internacional);
4. natureza do órgão publicador;
5. abrangência quanto à origem dos trabalhos (abertura da revista para autores de nível institucional, nacional e internacional);
6. difusão da revista (distribuição e divulgação devem ser as mais amplas possíveis);
7. indexação (a revista deve pleitear a inclusão das bases de dados nacionais e internacionais, de acordo com a área de assuntos que abrange – quanto maior o
número de bases de dados, maior será a valorização de sua qualidade, produtividade, inclusive a difusão indireta da revista).
No que diz respeito à normalização, a avaliação leva em conta 16 aspectos, que
vão desde o formato do periódico – o qual se recomenda que seja mantido durante a existência do título – até as instruções aos autores, que devem ser completas, descrevendo as áreas abrangidas pelo periódico, suas seções, norma adotada, critérios de seleção e questões relacionadas a direitos autorais e responsabilidade pelo conteúdo dos artigos publicados, entre outros, além de incluir exemplos de
referências bibliográficas (KRZYZANOWSKI; FERREIRA, 1998).
Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, jul./dez. 2005.
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DIFICULDADES DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS BRASILEIROS
Silvana Schultze
Os periódicos científicos nacionais estão presos num círculo vicioso: muitos são
talvez não interessassem à comunidade científica internacional, mas outros são
C) esteja ligada à forma dos textos submetidos.
afirmar que
DIFICULDADES DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS BRASILEIROS
Silvana Schultze
Os periódicos científicos nacionais estão presos num círculo vicioso: muitos são publicados de forma semiamadora e têm um esquema de distribuição deficiente.
Frequentemente apresentam irregularidades na periodicidade e morrem com facilidade. Alguns incluem artigos de qualidade e interesse para o país, embora talvez não interessassem à comunidade científica internacional, mas outros são
C) esteja ligada à forma dos textos submetidos.
afirmar que
As questões de 41 a 43 referem-se ao texto a seguir.
DIFICULDADES DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS BRASILEIROS
Silvana Schultze
Os periódicos científicos nacionais estão presos num círculo vicioso: muitos são muito irregulares em seus critérios de seleção. Como resultado dessa reunião de
problemas, muitos periódicos brasileiros acabam atraindo artigos recusados ou que
não teriam chances de ser publicados em periódicos estrangeiros.
Transformam-se,
assim, em segunda ou terceira opções, pois a tendência geral é que o pesquisador busque publicação nos periódicos de maior visibilidade, que lhe proporcionarão mais chances de citação, indicador reconhecido do prestígio do autor. A busca pelo
reconhecimento científico é um dos estímulos mais eficientes para publicar (MUELLER; PECEGUEIRO, 2001).
Krzyzanowski e Ferreira (1998) apontam os principais problemas dos periódicos
científicos nacionais: irregularidade na publicação e na distribuição e acesso; falta de normalização do periódico e problemas ligados à avaliação do conteúdo.
A tarefa principal dos periódicos científicos brasileiros é vencer esses
obstáculos, pois a editoração científica ainda é o maior indicativo da pesquisa científica produzida no país. E a pesquisa brasileira tem se desenvolvido mais e
mais: do reduzido número de cientistas com que o Brasil contava na década de 1960, chegou-se, em menos de quatro décadas, a um sistema de pesquisa bastante produtivo e com grupos de excelência em quase todas as áreas do conhecimento
(PEREZ, 2002).
Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, jul./dez. 2005.
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