Sobre Fatos e Fotos
É curioso pensar em como nas fotos as pessoas parecem estar sempre felizes. E é no mínimo estranho que assim pareçam em diferentes lugares e momentos da vida.
Acredito que existe no ato de fotografar um certo culto à eternidade, porisso mesmo, queremos que naquele momento em que a fotografia está sendo tomada, esteja tudo perfeito, embora nem sempre seja assim. Nos preparamos, nos esforçamos ao máximo, para aparentar uma beleza que talvez não tenhamos, uma elegância que talvez não nos seja habitual e uma alegria sobrenatural, ainda que forçada a partir de um sorriso plástico que não tenha capacidade de durar além do segundo em que os flashes se apagam.
É preciso verdadeira capacidade de interpretação do que se vê em uma fotografia, para perceber ao menos em parte, a emoção que vai além das fronteiras do que foi captado. Quantos sorrisos abertos em olhares vazios, quantas vestes bonitas que não encobrem a nudez do espírito, quantos amores de momento que não escondem as marcas do passado, quantas pessoas juntas e não unidas, quanta festa em meio às crises interiores!
Nisso consiste o ato de fotografar. Um gesto simples e rápido, hoje comum. Porém nele reside um algo mais, a essência da arte, que poucos conseguem consagrar: decifrar e registrar em menos de um segundo, a verdade que existe por detrás de cada gesto espontâneo, cada sorriso puro de felicidade, cada lágrima esgotada de dor, cada olhar vazio, cheio de saudade.
Hoje deparei-me com alguns fatos.
Hoje vi... algumas fotos.