DIA DE ANOS

DIA DE ANOS

Pessoas de minhas relações sabem que não cultivo o hábito de festejar anos, e costumam me interpelar o porquê da quase aversão de festejar a data natalícia. Eu lhes digo que não se trata de gostar ou não gostar, apenas não faço questão de me festejar porque afinal, se algum mérito há no festejar de anos, esse mérito a mim não pertence embora eu contribua naquilo que a meu alcance está, e, no meu íntimo, claro que desejo que a efeméride se repita por muitos e bons anos.

Afinal eu amo a vida dom recebido de Deus, e a Ele agradeço todos os dias essa dádiva maior.

Pensando bem, o que é um ano se não um lapso de tempo, uma invenção dos homens para tentar dividi-lo ou enganar-nos a nós mesmos!? É talvez por isso que não faço questão de festejar anos. Contradição? Mas o ser humano é cheio de contradições e acanhadas ideias, flébil candil de tênues ilusões, outras vezes nem tão tênues assim.

Analisemos ou consideremos as duas faces da questão: Se por um lado é bom se comemorar a data de mais um ano de nossa fugaz existência de ser pensante, e o é com certeza, afinal estamos vivos, a outra face nos mostra que a cada ano de vida a mais, é um ano de vida a menos, eis a questão, ou melhor, a contradição. Reflexões, lucubrações, chamemos-lhe do que quisermos. Mas essa é a realidade e, sendo realidade não há como escamotear a verdade.

Há verdades que muitas vezes escondemos em subterfúgios, pois, assim, temos a ilusória sensação do não desconforto. É talvez por isso que há os que hipocritamente dizem ser mais civilizado esconder certas verdades, do que certas verdades dizer, etc, etc. Mas a verdade deve ser desnuda, transparente, portanto, dita, ainda que às vezes seja intitulada de agressão. Após este apêndice ou tergiversação voltemos ao festejar de anos.

Fazer anos é bom, sim senhor, muito melhor ainda quando se é criança, na idade que podemos contar os anos nos dedos das nossas mãos, a chamada idade da inocência; e como seria bom se vez por outra pudéssemos voltar a ser criança!... Assim ao menos de vez em quando poderíamos ter a doce ilusão que a vida é uma continua festa e, portanto ser comemorada muito para lá de qualquer idade, ou de qualquer dia.

Estou de acordo, enfim, que se deva festeje a vida não a cada ano, mas a cada dia, a cada alvorecer, como o fazem as avezinhas do céu, ao pressentirem os primeiros alvores da madrugada. As flores do campo e dos nossos jardins ao serem beijadas pelos primeiros raios do sol que se abrem em sorrisos que nos enternecem. Que se festejem, pois, os anos, os dias, as horas. E viva à vida...

Mas não sou só eu que tenho certas ideias, digamos talvez esdrúxulas, no tocante a festejar a data de seu natalício; lembro, por exemplo, o poema de um extraordinário poeta chamado João de Deus, intitulado Dia de Anos, que começa assim:

“Com que então caiu na asneira/ De fazer na quinta-feira / vinte e sete anos?!... Que tolo! / Ainda se os desfizesse.../ Mas, fazê-los, não parece / De quem tem muito miolo Mas anos? Não caia nessa! / Olhe que a gente começa / Às vezes por brincadeira, / Mas depois, se se habitua,/ Já não tem vontade sua, / E fá-los queira ou não queira!...

Meus vinte e sete anos, que saudade!

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 01/09/2012
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