A REUNIÃO COM OS DOZE
Avisada de que eu havia chegado, a coordenadora veio à porta para recepcionar-me. Ao vê-la cordialmente mostrar-me uma cadeira à sua frente, esperei que ela primeiro sentasse. Num segundo meu olhar percorreu a sala aconchegante, discretamente decorada com quadros e peças de artes manuais. Atenta à minha observação a coordenadora sorriu, confirmando-me o que eu supunha.
- Todos são trabalhos dos alunos, professor. Disse-me enquanto retirava de uma pasta a lista dos inscritos. Das 20 vagas oferecidas para oficina de textos, 18 se inscreveram e 12, ali presentes, aguardavam-me para reunião.
Era o primeiro contato. E a expectativa era tão deles quanto minha. Deles, por conhecer-me e, obviamente, o que lhes poderei oferecer; minha, pelo que poderá resultar de ambas as partes, através de um projeto que não é inusitado, mas me proponho a fazê-lo inovador.
Na sala simples, mas suficientemente equipada, todos já me aguardavam. Solícita, a coordenadora permitiu que eu mesmo me apresentasse, e, sentando-me entre eles, completei o círculo. Depois, pedi que a partir da minha esquerda cada qual dissesse o nome, idade, e por que decidiu fazer a oficina.
Surpreenderam-me as manifestações. Mesmo heterogênea a turma no sexo (sete meninas e cinco meninos) e na faixa etária, de 14 a 23 anos, um só anseio se tornou comum: ler bem para escrever melhor. A partir dessa ideia animadora, quis saber sobre o que já haviam lido, com que habitualidade e preferência.
Feita esta sondagem, acrescentei: vamos passar por um processo de reaprendizagem em relação à leitura: o que ler e como ler, para saber interpretar. Só após algum conhecimento nessas três habilidades fundamentais é que partiremos para a produção textual. A produção de um texto depende da emissão do pensamento, e este só se consegue, satisfatoriamente, quando sabemos organizar nossas ideias através da expressão escrita. Para isso há dois requisitos essenciais precedentes: o conhecimento básico gramatical e a habitualidade da leitura atenta. Aqui vai uma oportuna e necessária advertência: não basta ler muitos textos, mas de pouca qualidade; importa sim, os bons, mesmo que poucos. Esse processo de escolha passa pelo gosto pessoal, mas isso vai se adequando à evolução individual. Ler não é apenas soletração; é cognição. Escrever satisfatoriamente é o que resulta desse processo. E cada qual aqui é capaz. A inteligência não tem cor. Tem vontade. E a vontade é um impulso para o exercício. O exercício é uma busca obstinada para o aperfeiçoamento. E para isso estamos aqui voluntariamente, mesmo uma vez por semana, mas com toda dedicação a esta oficina. Sucesso é o que desejo a todos.
Finalmente lhes digo: sinto-me privilegiado por estar entre os doze, sem ser mestre. Nesta oficina também sou um operário, pois tendo muito a ensinar, muito mais terei a aprender.
Avisada de que eu havia chegado, a coordenadora veio à porta para recepcionar-me. Ao vê-la cordialmente mostrar-me uma cadeira à sua frente, esperei que ela primeiro sentasse. Num segundo meu olhar percorreu a sala aconchegante, discretamente decorada com quadros e peças de artes manuais. Atenta à minha observação a coordenadora sorriu, confirmando-me o que eu supunha.
- Todos são trabalhos dos alunos, professor. Disse-me enquanto retirava de uma pasta a lista dos inscritos. Das 20 vagas oferecidas para oficina de textos, 18 se inscreveram e 12, ali presentes, aguardavam-me para reunião.
Era o primeiro contato. E a expectativa era tão deles quanto minha. Deles, por conhecer-me e, obviamente, o que lhes poderei oferecer; minha, pelo que poderá resultar de ambas as partes, através de um projeto que não é inusitado, mas me proponho a fazê-lo inovador.
Na sala simples, mas suficientemente equipada, todos já me aguardavam. Solícita, a coordenadora permitiu que eu mesmo me apresentasse, e, sentando-me entre eles, completei o círculo. Depois, pedi que a partir da minha esquerda cada qual dissesse o nome, idade, e por que decidiu fazer a oficina.
Surpreenderam-me as manifestações. Mesmo heterogênea a turma no sexo (sete meninas e cinco meninos) e na faixa etária, de 14 a 23 anos, um só anseio se tornou comum: ler bem para escrever melhor. A partir dessa ideia animadora, quis saber sobre o que já haviam lido, com que habitualidade e preferência.
Feita esta sondagem, acrescentei: vamos passar por um processo de reaprendizagem em relação à leitura: o que ler e como ler, para saber interpretar. Só após algum conhecimento nessas três habilidades fundamentais é que partiremos para a produção textual. A produção de um texto depende da emissão do pensamento, e este só se consegue, satisfatoriamente, quando sabemos organizar nossas ideias através da expressão escrita. Para isso há dois requisitos essenciais precedentes: o conhecimento básico gramatical e a habitualidade da leitura atenta. Aqui vai uma oportuna e necessária advertência: não basta ler muitos textos, mas de pouca qualidade; importa sim, os bons, mesmo que poucos. Esse processo de escolha passa pelo gosto pessoal, mas isso vai se adequando à evolução individual. Ler não é apenas soletração; é cognição. Escrever satisfatoriamente é o que resulta desse processo. E cada qual aqui é capaz. A inteligência não tem cor. Tem vontade. E a vontade é um impulso para o exercício. O exercício é uma busca obstinada para o aperfeiçoamento. E para isso estamos aqui voluntariamente, mesmo uma vez por semana, mas com toda dedicação a esta oficina. Sucesso é o que desejo a todos.
Finalmente lhes digo: sinto-me privilegiado por estar entre os doze, sem ser mestre. Nesta oficina também sou um operário, pois tendo muito a ensinar, muito mais terei a aprender.