PROJEÇÕES
PROJEÇÕES
Uma mãe lutava ferrenhamente para projetar seu sonho de infância, que era ser bailarina, na própria filha, de dezessete anos, e ouviu desta, a seguinte mensagem: - mãe, nós somos rigorosamente iguais, você não tinha os pés, e eu não tenho o coração!
E essa é a tônica das nossas vidas, nos projetamos no outro, notadamente essa é uma relação muito estreita entre pais e filhos, entre marido e mulher, ou até mesmo entre amigos, nossos assomos às vezes nos levam através de caminhos mais inimagináveis e impossíveis, e quando nos damos conta estamos fragilizados diante de nossos sonhos, desejando que terceiros os realizem, no entendimento, na inadvertida certeza de que isso nos trará felicidade, e estagnamos, só vendo diante de nós tais possibilidades como realização plausível de nossas vidas.
Tais expedientes, por mais paradoxal que pareça, têm movido às criaturas num universo de frustrações, e por que não dizer de demência aparente. Demência, como fator preponderante das psicoses do mundo moderno que invariavelmente tem subjugado esses homens e os feito reféns das suas próprias megalomanias, das suas criações fantasmagóricas os fazendo descer vertiginosamente até os arcabouços das suas vigilâncias, totalmente fragilizados, emocionalmente.
Uns não têm pés, a outros faltam um coração consagrado, a outros tantos faltam o desejo, a percepção, a estesia, o altruísmo e, sobra-lhes os caminhos que não são seus , cujas trajetórias se distanciam dos propósitos de suas vidas, em que pesem fantasiar a aparente felicidade.
E quando isso acontece, parece o fim do mundo, parece que esbarramos na inutilidade, por não vermos nossos sonhos se projetarem no nada, e a sensação de vazio, dão espaço às crises existenciais, crises estas que dissimulamos no nosso dia a dia, mediante a indiferença que nos sufoca, e nos arrasta para uma mesma vala comum, conjugando alegrias dissimules e mascarando a realidade com doses irrefletidas de humor.
E não somos felizes por que não queremos. Nós é que nos afastamos desse propósito. Tudo está disposto no universo e à nossa volta para que, seguindo as leis bem definidas da natureza e as colocando em prática, possamos ir adiante, nos revelando, fazendo dos sonhos metas, sem a necessidade premente dessas elucubrações que nos arremessam num vazio, e nos faz despencar nos abismos projetados pelas sombras das nossas perturbações.
Num vazio de insatisfação e medo, a remoer a vida, sempre de mal com o mundo. Como, se este fosse o responsável pelas nossas sandices e nossos fracassos, que nos pertencem, pois são criações eivadas de vícios.
Na psicologia, as projeções são vistas como mecanismos de defesa, e ao assim fazermos, inconscientemente estamos nos “libertando”. Pois imputamos ao outro, o que nos diz respeito como válvulas de escape, contudo não creio, que possamos ser felizes dessa forma, fazendo a todo instante essas transferências.
E tal fato é tão notório e evidente, que refreamos diante das nossas projeções, e elas nos apontam e nos ridicularizam, hora, por que não temos pés, horas porque nos falta o coração!
Albérico Silva