ESSA TRISTEZA QUE NÃO PASSA
Ela já sabe, se o tema da palestra é depressão, sempre há grande platéia.
Nessa noite não é diferente. Dentre tantos rostos que a olham no salão, vê alguns despertos para compartilhar informações, outros porém, engolidos pela crise aguda de depressão, mostram-se alheios, apáticos.
Depois de uma hora e meia de explanação sobre o assunto, o encontro chega ao fim. E como sempre uma fila se forma para vir conversar com ela.
São tantas as perguntas, as dúvidas que eles tem, a respeito da doença do humor, que os deixou assim, num estado de desinteresse e tristeza que não passa. São infinitas as questões sobre o tratamento, a demora nos resultados de melhora.
A queixa comum, é: "Essa tristeza infinita, nunca acaba".
Muitos, tem necessidade de contar como tudo começou, o que os levou a mudar tanto. Sair de um estado de esperança e otimismo, para outro de prostação e negativismo.
Ela, ouve a cada um com interesse e carinho, sabe que essa doença ainda sofre muito preconceito pela sociedade. Poucos são os que convivem com alguém que está passando por uma crise depressiva, e entendem de fato, o mecanismo da doença. Então, os acolhe da melhor forma que pode. E os orienta com todas as informações que possui.
Assim, termina mais um encontro. Ela, volta para casa, e no caminho vem matutando sobre o avanço dessa doença pelo mundo inteiro.
Ela sabe, que são tantas as pessoas, que estão nessa hora, vivendo um surto depressivo, e poucas terão a ajuda que precisam para sair desse estado. Pelo estigma que ainda há em torno da doença, muitos portadores a carregam sem ter com quem dividir as dores.
Enquanto dirige seu carro, pensa: "pior que sofrer os sintomas da depressão, é sofrer com o preconceito que a doença ainda carrega".
(Foto da autora)