Devorador de gente
Se existe algo que adora devorar gente é o tempo. Não é a toa que na mitologia grega ele é representado pelo deus Cronos que devorava seus filhos. Sempre achei muito interessante essa história mitológica, pois expressa o que acontece com a gente. Somos devorados pelo tempo. E não existe nada mais insatisfeito e insaciável do que o tempo. Ele não para; não sente pena; não ajuda, apenas devora cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês e ano. A cada tic do relógio é uma mordiscada do tempo nos devorando aos poucos, saboreando cada parte que de nós é tirada.
Escrevo essas linhas a poucos instantes do meu aniversário e já ouço o tempo bradar: estou te devorando. E está mesmo. “Ontem” eu tinha 12 anos e brincava de carinho com a molecada na calçada; daqui a alguns minutos (que já será hoje quando o texto tiver sido postado) farei 25 e já não brinco de coisa alguma e sei que “amanhã” quando acordar estarei com 50, 70, 80 e sabe se lá até onde chegará a contagem dos meus dias. Mas uma coisa é certa, o tempo continua devorando gente como a gente. O Rubem Alves acertou ao dizer que “o sol e as estrelas entoam a melodia eterna: “Tempus fugit””. O tempo está fugindo, correndo e enquanto faz isso vai nos devorando e levando consigo pedaços que passam a atender pelo nome de passado.
Será que existe um meio de vencer o tempo? Na mitologia Cronos é vencido por um de seus filhos, Zeus. Talvez isso nos ensine que é possível vencer o tempo. Bem, não sei se vencer seria a palavra correta pra se usar, pois é inevitável envelhecermos e morrermos, no entanto, acredito que é possível não nos deixarmos devorar passivamente. Como vencemos o tempo? Encontrei a resposta na seguinte frase do Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Vencemos o tempo quando vivemos e não apenas existimos. Quando desfrutamos de cada segundo, minuto, hora, dia, semana mês e ano. O tempo só devora gente que não vive. E que belo desperdício, já que só se vive uma vez. Então nesse 31 de agosto me resta lutar contra a tirania devoradora do tempo. Como? Vivendo cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês e ano, pois “quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...”.