ESTOU PENSANDO...

ESTOU PENSANDO...

Era eu estudante do curso de Direito, isso lá pelos idos de 1980 (caramba tinha que denunciar a minha idade logo no início da crônica?),quando ,cheia de curiosidade fui assistir a uma aula de psicologia social.

Transbordando de anseios, esperava que o professor me ensinasse a ler as pessoas.Claro, dali sairia sabendo ler mentes humanas, sem nem precisar comprar bola de cristal...Tempos ingênuos onde as informações da internet não nos tiravam a galope as pueris ilusões.

Tal não foi a minha surpresa, o professor começou a aula dizendo que o índice de reprovação na sua matéria era superior a setenta por cento, o que também era uma surpresa, já que a psicologia naquela década não era tão levada a sério como hoje.(Talvez as necessidades fossem menores)

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Depois disso incumbiu-nos de freqüentar o manicômio judiciário para realizar entrevista com os presidiários ditos loucos , o que se constituiria na única nota do semestre.

Naquela época eu não sabia que os loucos eram menos loucos do que os chamados “normais”. Sim, porque hoje que me perdoem os psiquiatras, mas louco para mim é aquele que enxerga o que eu ainda não vi.Bom, perdendo a oportunidade de enxergar mais, falei em tom inaudível:”Eu mesmo é que não vou lá”...

Bom os dias foram se passando e cada vez que um colega me convidava para ir em dupla ou em trio realizar as tais das visitas eu ficava sem resposta, e não pretendia partilhar o meu segredo...vai lá que algum deles era dedo duro...

Então tratei de pensar no que iria fazer, porque com nota zero eu não iria ficar mas é de jeito nenhum!

Ah já sei,reluzente idéia :Eu mesmo pergunto, e eu mesmo respondo... E assim o fiz:Elaborei perguntas, mergulhei no que seria o mundo de uma pessoa considerada para o padrão da época um “louco” e do resultado do mergulho colhi as respostas.

Vocês, eu não sei, mas meus colegas, que terminaram por descobrir o meu “segredo”, ficaram indignados quando souberam que eu fui agraciada com a maior nota da sala. Agora cabe a mim perguntar e responder:Será que eu também “era” “louca”, ou ali já plantava a minha semente de loucura por palavras? Vou pensar... enquanto isso, torço para que o professor nunca leia essa crônica!

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 30/08/2012
Reeditado em 30/08/2012
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