DIÁRIO DE UM ROCKEIRO
Aos 18 anos gostava de rock, conheci amigos que nos finais de semana nos reuníamos para ir pro salão de rock, a famosa LED SLAY na Avenida Celso Garcia, no Tatuapé, quando não tinha dinheiro íamos para a rua fazer vaquinha, pedir pros amigos para poder pagar os ingressos, quando um não tinha era a mesma coisa, fazíamos vaquinha entre nós até dar o valor.
 
Uma historia para ficar na historia!
Certo dia estava lá na Led Slay, era uma sexta feira tranquila, quando de repente um alvoroço tomou conta entre os roqueiros que estavam na entrada, nada mais nada menos que Raul Seixas, nosso eterno Raulzito entrou segurando seu violão e acompanhado por uma bela loira, cabelos curtos e barba feita, jaqueta e calça preta de couro e botas entrou no salão e sentou-se num canto, humilde e sem frescura, não precisava de seguranças, já que nós éramos os próprios, fizemos uma roda ao seu lado e perguntamos por que ele estava ali, então ele contou a historia que depois foi editada nos jornais.
Ele foi fazer um show em outra casa, o “Massahara” que ficava também ali no Tatuapé divisa com a Penha, mas era uma casa de playboyzinhos, e ele contando era muito engraçado, ele disse que havia muita gente, estava lotado e quando ele subiu no palco, as pessoas o vaiaram dizendo que ele era impostor, que não era o Raul Seixas, começaram a jogar objetos nele, tudo porque ele estava com visual diferente, tinha cortado o cabelo e feito a barba, realmente estava diferente, mas será que aqueles que o conheciam não podiam saber que mesmo assim era ele? Bem...
Começaram a xingar ele e que queriam o dinheiro dos ingressos de volta, disseram : sai daí seu trouxa, vai embora!, Foi ai que ele falou ao microfone  com sua voz inconfundível: 
Eu sou o Raul seixas, e trouxas são vocês que pagaram ingresso para me ouvir e vão ficar sem show porque vou embora, foi quando ele e alguns integrantes da banda sabiam que a Led Slay ficava perto, resolveram fazer uma visita, esse dia foi sensacional e inesquecível.
 
O melhor show
Fã do Black Sabbath, ganhei alguns ingressos do meu ex-concunhado, essa palavra existe! rs, fui eu a minha esposa e minha cunhada para o show deles no Anhembi, no mesmo dia havia um show do Legião Urbana o antigo Credicard hall, o show de abertura foi com a banda brasileira Angra, o vocalista era Dio, era baixinho e chato pra caramba, mas cantava muito, quando o show terminou as 4 horas, fomos a pé até o parque dom Pedro para pegar ônibus pra casa, descemos cortando até chegar na avenida São João, quando percebemos só tinha nós três andando, cruzamos mendigos, caras usando drogas,  medo tomava conta da gente, mas eu, cabelos compridos até as costas, camiseta do Black Sabbath, calças jeans apertada e de bota, acho que eles tinham mais medo de mim RS, enfim chegamos no Parque Dom Pedro e encontramos uma turma que vinham do show do Legião, ficamos trocando ideias até o ônibus chegar.
 
O pior show!
 O pior show que fui, foi no show do Sting, ex-vocalista do “the Police”.
Foi logo quando ele se separou da banda, a banda de abertura foi o Capital Inicial, que deu um verdadeiro show, Sting sem graça, sem presença de palco, desafinado e cantando umas musicas desconhecida e sem graça foi vaiado pelo publico presente, eu fui um deles, um amigo que trabalhava no Hilton ganhou os ingressos e fomos, eu e minha namorada, hoje esposa, e ele s sua namora, sua esposa hoje também, tava tão horrível que nossa distração foi fazer ola e pedir pro Capital voltar ao palco.
 
Tristeza
Foi quando um dos meus melhores amigos morreu, Dinho era um parceiro de aventuras, viciou-se em barbitúricos, acabou falecendo de anemia profunda, era irmão único de sua irmã, que não avisou nenhum amigo da sua morte, achando que éramos culpados pelo seu vicio, era verdade que alguns de nós fumávamos maconha, mas a maioria inclusive eu, curtíamos porque gostávamos de rock, não precisávamos usar drogas para nos divertir. Bebíamos vinho e vodka, tanto que é verdade que eu até hoje não bebo e nem fumo.
Caso verídico!
Uma vez doidos que éramos, resolvemos comprar um livro chamado “capa preta” o livro de São Cipriano. Meu conselho: não seja curioso, jamais compre essa porcaria!
Compramos o livro e já na contra capa estava escrito assim: você tem certeza que quer este livro? Saiba que tudo que ler terá que guardar segredo jamais deverá revelar o seu conteúdo.
Entramos em pânico, mas resolvemos comprar mesmo assim e começamos a ler, fizemos algumas experiências do livro e os segredos? Hahaha, não guardamos segredos, contamos pra muita gente que falava que aquilo era coisa do capeta.
Uma das experiências era para ficar invisível dos seus inimigos, mas viagem astral era a pior, tinha que ficar em um lugar ermo, em total escuridão, ficar imaginando num lugar onde queria estar, fazer uma reza e seu espírito ia até esse lugar e via tudo como se você estivesse lá, mas se algum barulho ou alguém te chamasse você tava ferrado, simplesmente morria e ainda ficava sem espírito, uns tentaram, eu desisti, na verdade nem quis mais ler.
Certo dia eles foram acampar numa cachoeira, eu não fui, ainda bem!
Estavam muito loucos, o Esperto, o Cosme, Gil, e alguns que não lembro o nome quando fizeram uma fogueira e começaram e evocar o capeta, foi quando a fogueira ergueu uma labareda em forma de uma caveira, todos ficaram assustados e tentaram apagar o fogo, depois todos voltaram pra casa, o fato é que aquilo afetou psicologicamente e acontecimentos estranhos aconteceu com todos, Esperto virou crente e é guitarrista de uma banda gospel, Gil também virou crente, quem diria que um dos fundadores do grupo legião crazy viraria crente, ele diz que aquilo foi assustador. Pois é, Cosme teve um desfecho trágico, estava viajando com a filha para Bahia quando o ônibus em que estava caiu na ribanceira e pegou fogo, ele e a filha morreram queimados.
 
Loucura ou fidelidade?
Já mais velho conheci outros amigos, alguns deles, San e Crispim, nosso sonho: que nossos filhos fossem homenspara montarnos uma banda com eles, fizemos um acordo, que quando casássemos iríamos por o nome de nossos filhos de um vocalista de uma banda que éramos fã, San era fã de John Lennon, Crispim era fã de Rod Stewart e eu do Black Sabbath, casamos e não esquecemos do pacto, Crispim casou primeiro, colocou o nome do seu filho de Rod Stewart, depois foi San que colocou o nome do filho de Lennon e em seguida foi eu, hoje dou risada e meu filho dá graças a Deus por eu não ter dado este nome á ele, Ozzy, esse era o nome que eu ia por, mas a mãe não aceitou, vai por o nome de um cara que come morcego? Acabei dando razão a ela e coloquei o nome dele de Elvis, mas devido a muita coisa que aconteceu, cada um foi morar distante, o tempo passou, e a formação da banda não aconteceu, todos nossos filhos já são adultos, todos na faixa dos 21 e 22 anos, mas sem duvida ficou uma historia para eles contarem para nossos netos.
Teve muitas historias, mas isso daria um livro, vamos ficar por aqui. Uma verdadeira amizade não se compra nem se acha “se conquista”.
 
O tempo passa rapidamente cada minuto se transforma em segundos, não tive infância, sempre passei por dificuldades, mas minha adolescência foi intensa, aproveitei cada minuto, só me arrependo das coisas que não fiz,curti a vida sem precisar usar drogas, conheci e convivi com boas e más pessoas, mas jamais as deixei que influenciassem na minha vida, as brigas eram só na porrada, hoje está tudo diferente, a diversão tem um preço e uma incógnita, os jovens saem hoje para se divertir, mas não sabem se voltam vivos para casa, cada fim de semana é uma dor e um aperto no coração quando um de nossos filhos estão fora de casa é preocupação com as companhias, com os lugares, hoje eu entendo muito bem o que meus pais passaram, mas assim como eles confiavam em mim, eu confio nos meus filhos. 

hoje a Led Slay não existe mais, o terreno onde ficava o salão foi vendido para uma construtora, depois de mais de 40 anos acabou, agora só resta esperar se os donos vão abrir outra em qualquer outro lugar.
Cido Fernandes
Enviado por Cido Fernandes em 29/08/2012
Reeditado em 05/09/2012
Código do texto: T3855900
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