Um olhar de gratidão
Está certo que não devemos fazer o bem esperando recompensas mas, admitamos, sentimo-nos bem quando aqueles por quem fizemos o bem nos são gratos. Ao vermos que nos dirigem um olhar de gratidão, sentimos uma espécie de calor interno, que nos conforta e nos mostra que fizemos algo bom, que fez a diferença para alguém.
Senti isso ontem na praça da alimentação da faculdade, ao ver um gatinho e um cão abandonados. Os animais passeavam entre os estudantes, que nem os viam, como se eles fossem invisíveis ou nem importassem. O gatinho passeava entre as pernas das pessoas, que o rechaçavam. Ao passar por mim, eu o acariciei e ele, imediatamente, retribuiu o carinho, miando com satisfação. Comprei uma fatia de bolo e lhe dei um pedacinho, que ele comeu com gula. Depois, ele se afastou e eu lembrei do cão. Chamei o animal e lhe dei o resto do bolo. Nunca vi uma criatura comer com tanto apetite. Penso nos olhares que ambos os animais me direcionaram. Olhares de pura gratidão, como se entendessem que eu queria ajudá-los e ajudar a diminuir suas necessidades, dando-lhes um pouco de conforto.
Quantas pessoas, por quem fazemos tanto, não são capazes da gratidão que dois animais supostamente irracionais demonstraram tão prodigamente? As duas criaturas me mostraram que o carinho não é melindre, mas uma necessidade básica. O gatinho queria carinho e a maior parte das pessoas o rejeitou, como se ele fosse algo pestilento e nocivo. E o pobre cão olhava para as pessoas, abanando amistosamente o rabo, talvez esperando um gesto de amizade das pessoas que o ignoravam.
Sinto pena deles, por quem quase ninguém se interessa. Sei que o que fiz foi pouco mas, de certa forma, sinto-me recompensada pelo olhar de gratidão que cada um deles me lançou.