O perigo dos extremos
“O mal não está nas coisas, mas no uso que fazemos delas.”
Essa sentença que abre um capítulo de um livro de Química, o qual eu utilizava para ministrar minhas aulas, tem até hoje, depois de tanto tempo, o poder de me fazer refletir. Procuro sempre lembrar-me dela no meu dia a dia para tentar encontrar meu equilíbrio.
Lá, naquele contexto, o autor se referia, principalmente, à utilização das substâncias que, bem dosadas, podem acarretar bem-estar ao organismo. Nada pode estar além ou aquém das necessidades orgânicas. O sal, por exemplo, se o tirarmos totalmente da dieta poderemos ficar com os níveis de sódio abaixo do necessário para a eficiência de alguns processos bioquímicos. Porém, ao utilizá-lo em excesso, poderemos acarretar inúmeros problemas à nossa saúde, sendo um dos mais graves a hipertensão arterial que, fatalmente, desencadeará outros, tão graves quanto.
O colesterol, visto como um grande vilão da saúde, também é essencial à vida, desde que consumido adequadamente. Seja o LDL ou o HDL, que na linguagem popular são denominados de o mau colesterol e o bom colesterol, respectivamente, são importantíssimos para algumas funções celulares.
O indivíduo que come compulsivamente, que não faz adequação de sua dieta ao seu biotipo e nem às suas atividades, que consome muitas calorias sem gastá-las na devida proporção, acumula gordura sob os tecidos, ou nas artérias, e pode tornar-se obeso, além de correr o risco de outras complicações, principalmente as cardiovasculares. Em contrapartida, há indivíduos que, por influência de modismos exacerbados, alimentam-se insuficientemente, não oferecendo ao organismo nutrientes que são imprescindíveis ao metabolismo celular e, muitas vezes, são acometidos de doenças sérias como a anorexia, as avitaminoses, as anemias e outras. Portanto, nada é proibido em termos de alimentação, desde que seja consumido com parcimônia.
A questão dos medicamentos também é extremamente séria, considerando que grande parte das pessoas tem o hábito da auto-medicação. Sendo leigas em relação à composição dos mesmos e às dosagens corretas, o resultado após a ingestão de um medicamento não prescrito por um médico pode ser totalmente inverso ao que se deseja. Pior, pode causar efeitos colaterais gravíssimos. Assim, o bem que cura pode se transformar no mal que mata. Melhor não brincar com o que não se conhece.
O mesmo se diz em relação às drogas consideradas ilícitas. A maconha obtida do cânhamo (Canabis sativa), o ópio (Papaver somniferum) de onde se originam a morfina e a heroína, o LSD (ácido lisérgico), a cocaína (Erythroxylum cocae) e tantas outras, quando estão na natureza não fazem mal algum. Entretanto, após passarem por diversos processos de transformação, podem provocar diversas sensações: prazer, êxtase, encorajamento, relaxamento e euforia, mas causam também depressão, insônia, alucinações, entre outras. Com o consumo frequente e/ou combinado com outras substâncias, podem causar dependência química e/ou psicológica. Segundo a própria Organização Mundial da Saúde, “A toxicomania é um estado de intoxicação periódico ou crônico nocivo ao indivíduo e à sociedade.”
O postulado de que o mal não está nas coisas, mas na maneira como nós as usamos não se restringe apenas aos aspectos fisiológicos do ser humano. O axioma é válido para todos os aspectos de nossa vida: pessoal, psicoemocional, social, religioso etc. Tudo pode se tornar potencialmente grave e, muitas vezes, catastrófico, se levado ao extremo.
O fanatismo religioso é um exemplo. Ao longo da história da humanidade temos assistido às barbáries cometidas em nome da fé. As “guerras santas” demonstram a involução do ser humano e a sua incapacidade de lidar com as diferenças e de respeitar a crença e a opção de vida dos outros. A homofobia, o racismo, a ambição desmedida, o ciúme doentio, o excesso de vaidade, a sede de poder, enfim, todos esses são sentimentos que têm levado o homem a cometer as mais terríveis atrocidades.
Grandes tragédias sociais têm como pano de fundo a falta ou o excesso de alguma coisa. A violência no trânsito, por exemplo, está associada tanto à falta quanto ao excesso: falta de prudência, de responsabilidade e do cumprimento das leis; e ao excesso de velocidade, de ingestão de bebida alcoólica e de auto-confiança.
No âmbito da política, a falta de gerenciamento das entidades governamentais, induz à corrupção, ao mau uso do dinheiro público, originando o sucateamento das instituições e dos serviços, e deixa a população desprovida de seus direitos básicos, entre eles a saúde e a educação. Já o excesso de burocracia, de tributos e de leis obsoletas, atravanca o desenvolvimento do país.
Nem oito, nem oitenta. Essa deveria ser a maneira de as pessoas encararem a vida. Buscar o equilíbrio, o nivelamento da balança, a moderação, não só nas questões relativas à qualidade biológica da vida, mas também à qualidade da vida pessoal e social. Nutrir o corpo com a quantidade e a qualidade adequadas de alimentos e nutrir a alma de bons sentimentos. Afugentar ideias e atitudes nefastas, administrar as emoções para que não se transformem em armas contra si mesmas nem contra os outros. Agir com a consciência de que o mundo pode ser melhor se cada um tentar melhorar a si mesmo a cada dia.
Talvez seja utópico, mas ainda acredito ser possível que a humanidade aprenda a usufruir a vida sem cometer excessos, e que a falta de consciência coletiva que tem lançado todos nós em um poço profundo, seja revertida. Não conseguiremos emergir se não começarmos a mudança já.
Essa sentença que abre um capítulo de um livro de Química, o qual eu utilizava para ministrar minhas aulas, tem até hoje, depois de tanto tempo, o poder de me fazer refletir. Procuro sempre lembrar-me dela no meu dia a dia para tentar encontrar meu equilíbrio.
Lá, naquele contexto, o autor se referia, principalmente, à utilização das substâncias que, bem dosadas, podem acarretar bem-estar ao organismo. Nada pode estar além ou aquém das necessidades orgânicas. O sal, por exemplo, se o tirarmos totalmente da dieta poderemos ficar com os níveis de sódio abaixo do necessário para a eficiência de alguns processos bioquímicos. Porém, ao utilizá-lo em excesso, poderemos acarretar inúmeros problemas à nossa saúde, sendo um dos mais graves a hipertensão arterial que, fatalmente, desencadeará outros, tão graves quanto.
O colesterol, visto como um grande vilão da saúde, também é essencial à vida, desde que consumido adequadamente. Seja o LDL ou o HDL, que na linguagem popular são denominados de o mau colesterol e o bom colesterol, respectivamente, são importantíssimos para algumas funções celulares.
O indivíduo que come compulsivamente, que não faz adequação de sua dieta ao seu biotipo e nem às suas atividades, que consome muitas calorias sem gastá-las na devida proporção, acumula gordura sob os tecidos, ou nas artérias, e pode tornar-se obeso, além de correr o risco de outras complicações, principalmente as cardiovasculares. Em contrapartida, há indivíduos que, por influência de modismos exacerbados, alimentam-se insuficientemente, não oferecendo ao organismo nutrientes que são imprescindíveis ao metabolismo celular e, muitas vezes, são acometidos de doenças sérias como a anorexia, as avitaminoses, as anemias e outras. Portanto, nada é proibido em termos de alimentação, desde que seja consumido com parcimônia.
A questão dos medicamentos também é extremamente séria, considerando que grande parte das pessoas tem o hábito da auto-medicação. Sendo leigas em relação à composição dos mesmos e às dosagens corretas, o resultado após a ingestão de um medicamento não prescrito por um médico pode ser totalmente inverso ao que se deseja. Pior, pode causar efeitos colaterais gravíssimos. Assim, o bem que cura pode se transformar no mal que mata. Melhor não brincar com o que não se conhece.
O mesmo se diz em relação às drogas consideradas ilícitas. A maconha obtida do cânhamo (Canabis sativa), o ópio (Papaver somniferum) de onde se originam a morfina e a heroína, o LSD (ácido lisérgico), a cocaína (Erythroxylum cocae) e tantas outras, quando estão na natureza não fazem mal algum. Entretanto, após passarem por diversos processos de transformação, podem provocar diversas sensações: prazer, êxtase, encorajamento, relaxamento e euforia, mas causam também depressão, insônia, alucinações, entre outras. Com o consumo frequente e/ou combinado com outras substâncias, podem causar dependência química e/ou psicológica. Segundo a própria Organização Mundial da Saúde, “A toxicomania é um estado de intoxicação periódico ou crônico nocivo ao indivíduo e à sociedade.”
O postulado de que o mal não está nas coisas, mas na maneira como nós as usamos não se restringe apenas aos aspectos fisiológicos do ser humano. O axioma é válido para todos os aspectos de nossa vida: pessoal, psicoemocional, social, religioso etc. Tudo pode se tornar potencialmente grave e, muitas vezes, catastrófico, se levado ao extremo.
O fanatismo religioso é um exemplo. Ao longo da história da humanidade temos assistido às barbáries cometidas em nome da fé. As “guerras santas” demonstram a involução do ser humano e a sua incapacidade de lidar com as diferenças e de respeitar a crença e a opção de vida dos outros. A homofobia, o racismo, a ambição desmedida, o ciúme doentio, o excesso de vaidade, a sede de poder, enfim, todos esses são sentimentos que têm levado o homem a cometer as mais terríveis atrocidades.
Grandes tragédias sociais têm como pano de fundo a falta ou o excesso de alguma coisa. A violência no trânsito, por exemplo, está associada tanto à falta quanto ao excesso: falta de prudência, de responsabilidade e do cumprimento das leis; e ao excesso de velocidade, de ingestão de bebida alcoólica e de auto-confiança.
No âmbito da política, a falta de gerenciamento das entidades governamentais, induz à corrupção, ao mau uso do dinheiro público, originando o sucateamento das instituições e dos serviços, e deixa a população desprovida de seus direitos básicos, entre eles a saúde e a educação. Já o excesso de burocracia, de tributos e de leis obsoletas, atravanca o desenvolvimento do país.
Nem oito, nem oitenta. Essa deveria ser a maneira de as pessoas encararem a vida. Buscar o equilíbrio, o nivelamento da balança, a moderação, não só nas questões relativas à qualidade biológica da vida, mas também à qualidade da vida pessoal e social. Nutrir o corpo com a quantidade e a qualidade adequadas de alimentos e nutrir a alma de bons sentimentos. Afugentar ideias e atitudes nefastas, administrar as emoções para que não se transformem em armas contra si mesmas nem contra os outros. Agir com a consciência de que o mundo pode ser melhor se cada um tentar melhorar a si mesmo a cada dia.
Talvez seja utópico, mas ainda acredito ser possível que a humanidade aprenda a usufruir a vida sem cometer excessos, e que a falta de consciência coletiva que tem lançado todos nós em um poço profundo, seja revertida. Não conseguiremos emergir se não começarmos a mudança já.