A BENZEDEIRA, O MÍSTICO E O AMIGO...!

A BENZEDEIRA, O MÍSTICO E O AMIGO...!

Nos dias de hoje, não é comum se ouvir falar em benzedeira. Pouco se escuta alguém se referir àquelas, geralmente mulheres, que tinham determinados poderes, não sei por quem dados, de livrar uma criança, ou mesmo adulto, do mau olhado, do quebranto. Extirpar os vermes, que chamávamos de bichas, que se depositavam nos intestinos. Inclusive, tinha algumas que benziam torcicolo, torção de tornozelo, ciática, bucho virado, e outros males.

Na minha infância, a mais famosa benzedeira de Santo André era a Dona Palmira Catalani. Era uma figura. Baixinha, gordinha, sempre com uma aspecto de quem estava acabando de arrumar a casa, de quem estava lavando roupa, ela recebia a gente com um sorriso largo, mostrando os poucos dentes que lhe restavam. Morava bem perto de casa, na rua Padre Capra, quase vizinha da creche, a primeira escolinha que frequentei.

Chegou a benzer meus filhos, pelo menos o mais velho. Não creio que esteja viva.

O místico já citei em outra crônica, apenas de relance, como uma das figuras tradicionais da cidade. É o Zástraz. Sempre de preto, capote, chapéu, botas, montado num cavalo também preto. Imponente! Diziam ter ele poderes espirituais extraterrenos. Para nós, crianças, metia medo. Morava atrás do cemitério da Saudade, o único daquela época. Costumava subir no muro da necrópole, e ali desfilar sua figura um tanto quanto tétrica. Isso, no cair da noite.

Gostava de futebol, torcedor fanático do Corinthians de Santo André.

Nos dias de jogos, permitiam que ele entrasse montado no cavalo. Não posso afirmar se era cobrado ingresso do animal! O gol de entrada do estádio era rodeado de eucaliptos, e nossa figura ali ficava! Era uma atração à parte!

Saudosa figura!

Até hoje, nunca citei em meus textos, o amigo Osvaldinho. É cabeleireiro masculino. Xinga quando o chamam de barbeiro, o que na realidade ele é! Muito conhecido. Cuida do cabelo de pai, filho, neto, bisneto de muita gente. Muitos o chamam de fofoqueiro. Mas, na realidade, ele é fruto da própria profissão. Quem senta na cadeira do barbeiro, logo cai na conversa. “Como está o fulano? Você viu o sicrano, se separou da mulher! Sabe quem morreu?” E, assim, é o dia inteiro! Imaginem! É a pessoa que mais recebe convite para festas, na cidade. E, próprio de sua personalidade, sempre fica em lugares estratégicos nesses eventos. Para ver e ser visto! Casado com a Darci, amiga de muitos anos, tem duas filhas maravilhosas, a Daniella e a Mirella.

Pertence à família Guazzelli, das mais tradicionais da querida Vila Assunção, onde seu pai teve um armazém de secos e molhados.

Benzedeira, místico, amigo, todos figuras que fizeram parte de meu passado, e que me trazem eternas recordações.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 28/08/2012
Reeditado em 28/08/2012
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