Cubatão-Memórias. Cap. I
CUBATÃO (SP) DOS MANGUES AOS BANANAIS
CAPÍTULO-I
Secos & Molhados:
Secos e molhados. Não! não me refiro ao famoso conjunto musical. Falo sim das mercearias. Uma em especial, a do seu Jaime, vendia desde secos e molhados até utensílios para cozinha etc. Eram panelas, chaleiras, caldeirões, bules, frigideiras, além de baldes e até penicos.
Havia também como quase todas as vendas, um cantinho onde a irmandade etílica se reunia. Não raro um e outro saía abraçado de volta para a casa. Isso quando as respectivas esposas não iam buscá-los mais cedo.
Nesta mercearia havia uma curiosidade. Eram os gatos que viviam enrodilhados sobre as sacarias na maior modorra. Quantas vezes vi o seu Jaime pedindo licença aos bichanos para que pudesse atender a um consumidor.
O seu Jaime era um homem de bom humor, mas não vendia fiado. E antes de entregar a mercadoria, ele sempre perguntava: - Trouxe o carvão? . A mercearia ficava da Rua Fernando Costa.
Na parte de trás desse estabelecimento acontecia uma atividade paralela, claro, com a anuência do proprietário. Estou falando do barbeiro chamado Lindolfo. Era uma figura conhecida na redondeza. Era o barbeiro de quase toda vila. A cadeira não era nenhuma “Ferrante” era um caixote aonde vinham os tomates ou as batatas e o salão era um puxado que havia lá trás. Mas já naquela época era o que hoje chamamos de delivery. Sim, era só marcar hora e endereço e lá ia Lindolfo carregando sua bolsinha com os apetrechos pilotando sua bicicleta, e equilibrando um costumeiro palito de dente, que ia e vinha pra lá e pra cá em sua boca, como goleiro na hora do penalt.
Falando em mercearia, às margens do ramal da estrada de Ferro que cortava a cidade, ali próximo ao D.E.R, funcionava a mercearia de um português chamado Valada. Conta a lenda que certa manhã alguém observara rastros de onça próximo ao estabelecimento. Diziam até que a onça arranhara a porta para conseguir alguma comida para ela e seu filhote que a acompanhava.
E continuando a falar em mercearia, na Miguel Couto, ficava o bar e mercearia da dona Rosa. Conta também a lenda que sua filha namorava um piloto da FAB, piloto esse que de quando em quando fazia com um avião parecido com um T-6 sob céu da pacata cidade, acrobacias de arrepiar até o cabelo do relógio. (T-6 Era um avião de treinamento, também usado como caça na II grande guerra). Aqui em baixo a molecada se divertia dando tchauzinho para o piloto que lá do seu cockpit respondia com acenos de positivo. Às vezes eram dois aviões. Aí eram; Cosme e Damião. O engraçado disso tudo era ver o meu cachorro (Bolinha) correndo atrás da sombra do avião.
Corria o ano de 1957.
José Alberto Lopes®