Sem Internet

Vale a pena procurar no youtube e assistir ao vídeo ''Desconecte-se, para conectar''. Em seguida, desconecte.


Já me descabelei, já disse uns desaforos para a menina da operadora que teve o azar de me atender. Agora, é esperar a Internet voltar.

Decido usar esse inesperado tempo livre para passear com os cães. Vou trocar de roupa e observo que a desordem grassa e desgraça meu armário. Resolvo começar uma arrumação. Desço à garagem em busca de uma caixa para acomodar as peças que não uso mais. Da escada, já vejo o quanto o aquário está sujo. Vinha adiando a limpeza há algumas semanas por causa do frio, mas está uma tarde morna, melhor aproveitar. Saio para o quintal à procura de uma mangueira que me permita sifonar o fundo cheio de lodo e passo perto da minha horta-deserto-do-saara. Que desolação! Pergunto ao jardineiro o que falta para transformar aquele solo árido num fértil berço de salada orgânica. Ele me lembra que há alguns meses vem me pedindo para comprar adubo e sementes. Volto à cozinha para telefonar à floricultura e encomendar os insumos. Ao lado do aparelho, a enorme lista de compras. Nossa! Não temos nada em casa! Mais um dia e passaremos fome! Supermercado, aí vou eu! Volto ao quarto para pegar minha bolsa. Quando passo perto do computador, ouço o alerta de novas mensagens. Não acredito! A Internet voltou! Até que enfim!
Não aguentava mais ficar à toa!

Identificou-se? Não é pra menos. Antes era a televisão, a nos hipnotizar, impedindo-nos de viver e conviver. Agora, a internet com suas infinitas possibilidades, seu mágico conteúdo e as quase sempre tão gratificantes amizades virtuais. Caetano já dizia: de perto, ninguém é normal. Atrás da telinha, porém, todos são simpáticos, gentis, politicamente corretos e os poucos que não são, basta bloquear. É o Shangrilá!

Então, passamos horas navegando. A casa na maior bagunça e os filhos só não sentem tanto, porque, desde pequenos, também vivem conectados. A gente sabe que é vício, tenta impor limites, mas sempre tem um e-mail importantíssimo pra responder. Dali, ao Facebook é só um pulinho e, quando vemos, foi-se o dia.

Solução pra isso? Tem, claro! Só me dá dois minutinhos: vou ali, pesquiso no Google e já volto!




Texto publicado no Jornal Alô Brasília, em 20/03/2012.
Este texto é uma adaptação de texto homônimo meu, publicado em 25/06/2010: Sem Internet.