Livros...

Minha filha chegou com um livro de capa vermelha com o título “Amor”, escrito em letras brancas. Olhei interrogativamente para aquele livro estendido em minha direção e ela disse-me:

— Peguei-o na biblioteca para você.

A expressão interrogativa de meus olhos se traduziu em palavras:

— Para mim?! Acho que você se enganou. Com este título este livro deve estar mais apropriado para você. Afinal é você quem está descobrindo o amor, a vida.

Ela ficou rindo e falou:

— Dê uma lida nele antes de tirar conclusões precipitadas. Tenho certeza de que vai gostar muito. Lembre-se de que meus conselhos são bons... Já se esqueceu de “O velho e o mar”?

Ri também ao me lembrar daquele livro. Todos nós temos curiosidades de conhecer obras-primas, best sellers e os críticos são unânimes em afirmar que este livro é a obra-prima de Ernest

Hemingway. Peguei-o para ler. Ao ver-me com ele, minha filha falou:

— A senhora não deveria ler este livro, a história dele é muito triste. Comecei a ler e tive que parar porque estava deixando-me com baixo astral.

Mesmo sabendo disso eu queria conhecer a obra ganhadora do Prêmio Pulitzer. Mas ela tinha razão. A história se resumia na narrativa de um pescador caído em desgraça. Depois de 84 dias sem pegar um único peixe, fisga um de tamanho descomunal, um peixe que poderia ser encarado como o grande prêmio de uma vida inteira de luta pela sobrevivência. Durante três dias lutou para não deixar o peixe escapar até conseguir trazê-lo à superfície. Amarrou-o num bote e voltou para casa. Apesar de quase morto de cansaço e ferido, estava orgulhoso levando o troféu que o consagraria. Um cardume de tubarões o ataca e devora todo o peixe. Durante o desenrolar da história, vemos a têmpera de aço, a coragem e a confiança na vida daquele pobre pescador convivendo com a solidão e os fracassos a cada conquista. Dizem que o livro fala de coisas mais profundas como o significado da vida, a importância de ter algo para lutar, mesmo que a derrota seja inevitável. Mas as dores – físicas e psicológicas - pelas quais o velho passa, causam uma sensação de compaixão no leitor que torce o tempo todo para que ele seja um vencedor e no final é tomado por uma grande frustração. Apesar de ser uma leitura fácil (o autor usa de propósito a simplicidade e escreve com objetividade) torna-se pesada com a carga de sofrimentos que o assunto aborda.

Com argumentos tão convincentes, e a estas alturas já com certa curiosidade, peguei o livro que ela me oferecia. Comecei a dar umas olhadas. Essas olhadas resultaram em leitura de uma página e desta não parei mais. Aliás, eu não só lia como também comentava com as pessoas de casa.

Meses depois, ao passar em frente de uma livraria, um livro da capa vermelha exposto na vitrine chamou-me a atenção, parei e olhei: “Amor”- Leo Buscaglia... Não é necessário dizer que entrei e o comprei.

Ele só não se tornou “livro de cabeceira” pelo fato de não ter parado mais comigo. É a conta de chegar e empresto-o para o próximo da fila (principalmente para as minhas amigas professoras e mães). Coisas boas não podem ser guardadas, precisam ser compartilhadas.

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 28/08/2012
Código do texto: T3852644
Classificação de conteúdo: seguro