Política x Religião: uma relação perigosa.
Nos últimos oito anos da história política de São Gonçalo (RJ) a relação entre o poder público e a população se deteriorou e embruteceu de uma forma surpreendentemente aviltante. O grupo político que supostamente governa a cidade (inteiramente “desgovernada”) atua de forma absolutamente truculenta, deixando claro sua postura de indiferença e inaptidão para o diálogo com as diversas esferas da sociedade.
Uma das mais recentes atitudes unilaterais, impositivas e polêmicas da nada democrática prefeita Aparecida Panisset foi a mudança do nome da praça Chico Mendes, no bairro Raul Veiga, para praça da Bíblia, sem que os moradores e os frequentadores deste espaço público, portanto, de uso coletivo e não privativo dos donos do poder, fossem consultados. Seu governo é fortemente marcado por uma linha de ação claramente proselitista, fazendo inclusive de alguns templos religiosos curral eleitoral, sendo esta uma das formas utilizadas para sustentar de pé um governo fraco e dominado por uma estarrecedora apatia nas áreas sociais.
Os argumentos apresentados pela prefeitura para justificar a sandice de seu ato conseguem ser tão abjetos e deploráveis quanto o fato da cidade ter como prefeita uma pessoa que, apesar da formação em história, se recusa terminantemente a reconhecer a importância e a necessidade da laicidade do Estado, ou seja, a política e a fé devem ser tratadas como de fato são, assuntos distintos, sem que haja nenhum traço de proximidade entre ambos. Segundo os gênios da burocracia municipal não se justifica tanta polêmica em torno dessa questão, pois a maioria dos gonçalenses nem mesmo sabem quem foi Chico Mendes, e que o mesmo não merece tanta atenção por não ter nascido neste município. Inicialmente, o fato de parte da população não conhecer a relevância da figura histórica em questão só prova a falência da educação pública de responsabilidade deste mesmo governo. Quanto à demonstração de desprezo dos funcionários mais próximos da prefeita pelo ambientalista brasileiro de fama internacional, morto por defender a causa ambiental, só evidencia o despreparo daqueles que nos governam.
Faz-se necessário que a população passe a ter uma postura mais crítica e combativa em relação às constantes e absurdas mazelas desse governo teocrático liderado pela Panisset, incluindo nisso o hábito de denunciar as atitudes irresponsáveis e amorais de nossos representantes aos órgãos fiscalizadores do Estado como, por exemplo, o Ministério Público, caso não queiramos futuramente nos ver inseridos numa realidade opressora e anormal em que vivem hoje algumas sociedades, como no Irã, onde não existe respeito pelas liberdades individuais e a religião local dita o modo de vida da população. Aqui, eles começam a decidir por nós o nome de nossas praças, amanhã não se sabe onde isso poderá chegar.