FRANCO B.TAVIANI - um diretor italiano em Florianópolis
Tivemos a ilustre presença em Florianópolis, no auditório da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, do aclamado diretor Franco Brogi Taviani, proferindo um Workshop de Cinema para alunos e ítalo-descendentes, com o título “A imigração italiana em forma de filme?”, de 20 a 23 de agosto. Para mim foi uma honra estar pertinho do grande mestre da sétima arte.
Franco nasceu em 20.11.1941, na Toscana (Itália), começou sua carreira como assistente de direção e montador com os irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Teve sua própria companhia de teatro, fez trabalhos para a televisão, dirigiu mais de 100 documentários, e foi premiado em vários festivais internacionais, em especial, um “Leão de Ouro de Veneza” e outros recentemente, por seus filmes e documentários.
Em São Paulo, no último dia 18 de agosto, apresentou alguns desses filmes - docu-ficção, uma mescla de ficção e documentário, na Casa Guilherme de Almeida. Também aqui, na UFSC, tivemos a exibição destes filmes muito especiais: “Forse Dio é malato” e “Italiani all’opera”... Emocionantes! Cada enredo desses memoráveis filmes nos comoveu e nos mostrou a grandiosidade de seu trabalho.
Este seu longa-metragem: “Forse Dio é malato” (Talvez Deus está doente), foi lançado em 2008, e trata dos efeitos devastadores da guerra, das desigualdades, das injustiças, da fome e da AIDS na África, filme que foi muito aplaudido e premiado no X Festival de Direitos Humanos (DERHUMALC) em Buenos Aires, Argentina.
Em 2011, realizou o docu-ficção: “Italiani all’Opera” (Italianos vão à opera), com um tema instigante: imigração. Conseguiu realizar uma belíssima produção em torno da música lírica que permeia as mentes dos descendentes de italianos argentinos.
No último dia, Franco gentilmente cedeu-nos entrevista coletiva, e transcrevo aqui algumas notas:
- O que o motivou a fazer cinema?
- Já aos dez anos tinha dois irmãos Paolo e Vittorio, que começaram a fazer cinema (o primeiro filme deles foi “Os subversivos”) – nos disse,... e veio um tempo de muito esplendor dos filmes italianos no cenário mundial, apareceram nomes importantes como: Pasolini, Fellini, Vittorio de Sica, Bertolucci e outros. E, já aos dez anos ele decidiu que queria fazer carreira no cinema, e que, apesar de todas as dificuldades, chegou lá.
Quisemos saber se era mais fácil ou não ser irmão de dois diretores também premiados do cinema italiano. Franco ponderou que, os outros dois nasceram antes da II guerra mundial,... e ele veio depois, em meio à destruição e às cinzas daquilo tudo.
- Então, a sua ideologia é deferente da deles?
- Não é uma questão ideológica, mas sim, de diferentes visões de ver o mundo – respondeu Franco. – “Não sou tão otimista”, disse e citou Gramschi: “O otimismo da vontade é o pessimismo da razão”.
Franco fez uma análise, a nosso pedido, dos prós e contras da era digital no cinema: “Quando trabalhava na montagem, tinha que cortar cena por cena para tirar os excessos, os pequenos erros, e sabia que levaria uns dois dias para colar a fita, e que não poderia recuperar certos pequenos detalhes. Então, havia um extremo cuidado e apuro na realização das cenas, faziam-se pausas, o diretor e o câmeramen se esmeravam em acertar os detalhes. Depois, com a era digital, tudo ficou tão fácil e tantos ângulos são possíveis que não há aquele olhar mais aprofundado que havia antes”.
Pareceu-me, eu lhe disse, que nossa música, a do Coral do Círcolo Lira de Blumenau não lhe agradou. Ele me disse que “é uma música muito antiga e que parece que os descendentes italianos se fixaram naquele momento, naquela época, com muita nostalgia; que insistem em manter viva aquelas décadas... e parece que ficou algo não finalizado... como se reviver aquele tempo, lhes fizesse pensar que tudo poderia ter sido diferente e melhor se os ascendentes não tivessem emigrado”.
Javier, um jovem cineasta argentino, ponderou e foi em si uma conclusão, sobre uma “lacuna” que percebemos centrada nos descendentes dos italianos. Franco assentiu que “ficou cristalizada a música dos anos 30, sim, há aí um vazio.”
O diretor nos disse que “decidiu fazer filmes sobre imigração, pois os italianos na Itália hoje não aceitam com bons olhos os imigrantes que chegam lá, mas se esquecem que os próprios italianos já passaram por muitos constrangimentos quando eram imigrantes em outros países, já passaram pela mesma situação, de não serem bem acolhidos como gostariam”. E acrescentou: “È complexo fazer cinema numa Itália que financeiramente não dá apoio, e a RAI prefere filmes comerciais.”
Perguntado se pretende fazer um novo longa-metragem, Franco disse que, já não é tão jovem, teria que fazê-lo com brevidade, mas que não é assim tão fácil,... e enfim, talvez consiga, pois ainda lhe sopram “lampejos de fogo” em sua maturidade.
Nesses quatro dias de agradável convívio, o diretor buscou um roteiro, assim, como na Argentina, onde o tema central foi a música, e o filme “Italiani all’ópera” ficou belíssimo. Ele se referiu a este com entusiasmo, e gostaria de repetir, de fazer outro filme tão bom quanto aquele. Sugeriu que este aqui fosse ligado a comida, talvez, que teríamos um bom roteiro gastronômico, mas isso ficou em suspenso.
Enfim, nosso diretor irá agora a Brasília nos próximos dias, a fim de conseguir patrocínio para realização de um filme com o tema: a imigração italiana no sul do Brasil, e com a participação desses futuros cineastas: Fernanda, Bruna, Rober, Daniela, Maria Augusta, Ana Carolina, Denise, Anderson, e demais alunos de cinema da UFSC. Ficaremos na expectativa de sua realização.
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IZABELLA PAVESI
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Foto: GRUPO DE CINEMA DA UFSC com FRANCO B.TAVIANI
Tivemos a ilustre presença em Florianópolis, no auditório da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, do aclamado diretor Franco Brogi Taviani, proferindo um Workshop de Cinema para alunos e ítalo-descendentes, com o título “A imigração italiana em forma de filme?”, de 20 a 23 de agosto. Para mim foi uma honra estar pertinho do grande mestre da sétima arte.
Franco nasceu em 20.11.1941, na Toscana (Itália), começou sua carreira como assistente de direção e montador com os irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Teve sua própria companhia de teatro, fez trabalhos para a televisão, dirigiu mais de 100 documentários, e foi premiado em vários festivais internacionais, em especial, um “Leão de Ouro de Veneza” e outros recentemente, por seus filmes e documentários.
Em São Paulo, no último dia 18 de agosto, apresentou alguns desses filmes - docu-ficção, uma mescla de ficção e documentário, na Casa Guilherme de Almeida. Também aqui, na UFSC, tivemos a exibição destes filmes muito especiais: “Forse Dio é malato” e “Italiani all’opera”... Emocionantes! Cada enredo desses memoráveis filmes nos comoveu e nos mostrou a grandiosidade de seu trabalho.
Este seu longa-metragem: “Forse Dio é malato” (Talvez Deus está doente), foi lançado em 2008, e trata dos efeitos devastadores da guerra, das desigualdades, das injustiças, da fome e da AIDS na África, filme que foi muito aplaudido e premiado no X Festival de Direitos Humanos (DERHUMALC) em Buenos Aires, Argentina.
Em 2011, realizou o docu-ficção: “Italiani all’Opera” (Italianos vão à opera), com um tema instigante: imigração. Conseguiu realizar uma belíssima produção em torno da música lírica que permeia as mentes dos descendentes de italianos argentinos.
No último dia, Franco gentilmente cedeu-nos entrevista coletiva, e transcrevo aqui algumas notas:
- O que o motivou a fazer cinema?
- Já aos dez anos tinha dois irmãos Paolo e Vittorio, que começaram a fazer cinema (o primeiro filme deles foi “Os subversivos”) – nos disse,... e veio um tempo de muito esplendor dos filmes italianos no cenário mundial, apareceram nomes importantes como: Pasolini, Fellini, Vittorio de Sica, Bertolucci e outros. E, já aos dez anos ele decidiu que queria fazer carreira no cinema, e que, apesar de todas as dificuldades, chegou lá.
Quisemos saber se era mais fácil ou não ser irmão de dois diretores também premiados do cinema italiano. Franco ponderou que, os outros dois nasceram antes da II guerra mundial,... e ele veio depois, em meio à destruição e às cinzas daquilo tudo.
- Então, a sua ideologia é deferente da deles?
- Não é uma questão ideológica, mas sim, de diferentes visões de ver o mundo – respondeu Franco. – “Não sou tão otimista”, disse e citou Gramschi: “O otimismo da vontade é o pessimismo da razão”.
Franco fez uma análise, a nosso pedido, dos prós e contras da era digital no cinema: “Quando trabalhava na montagem, tinha que cortar cena por cena para tirar os excessos, os pequenos erros, e sabia que levaria uns dois dias para colar a fita, e que não poderia recuperar certos pequenos detalhes. Então, havia um extremo cuidado e apuro na realização das cenas, faziam-se pausas, o diretor e o câmeramen se esmeravam em acertar os detalhes. Depois, com a era digital, tudo ficou tão fácil e tantos ângulos são possíveis que não há aquele olhar mais aprofundado que havia antes”.
Pareceu-me, eu lhe disse, que nossa música, a do Coral do Círcolo Lira de Blumenau não lhe agradou. Ele me disse que “é uma música muito antiga e que parece que os descendentes italianos se fixaram naquele momento, naquela época, com muita nostalgia; que insistem em manter viva aquelas décadas... e parece que ficou algo não finalizado... como se reviver aquele tempo, lhes fizesse pensar que tudo poderia ter sido diferente e melhor se os ascendentes não tivessem emigrado”.
Javier, um jovem cineasta argentino, ponderou e foi em si uma conclusão, sobre uma “lacuna” que percebemos centrada nos descendentes dos italianos. Franco assentiu que “ficou cristalizada a música dos anos 30, sim, há aí um vazio.”
O diretor nos disse que “decidiu fazer filmes sobre imigração, pois os italianos na Itália hoje não aceitam com bons olhos os imigrantes que chegam lá, mas se esquecem que os próprios italianos já passaram por muitos constrangimentos quando eram imigrantes em outros países, já passaram pela mesma situação, de não serem bem acolhidos como gostariam”. E acrescentou: “È complexo fazer cinema numa Itália que financeiramente não dá apoio, e a RAI prefere filmes comerciais.”
Perguntado se pretende fazer um novo longa-metragem, Franco disse que, já não é tão jovem, teria que fazê-lo com brevidade, mas que não é assim tão fácil,... e enfim, talvez consiga, pois ainda lhe sopram “lampejos de fogo” em sua maturidade.
Nesses quatro dias de agradável convívio, o diretor buscou um roteiro, assim, como na Argentina, onde o tema central foi a música, e o filme “Italiani all’ópera” ficou belíssimo. Ele se referiu a este com entusiasmo, e gostaria de repetir, de fazer outro filme tão bom quanto aquele. Sugeriu que este aqui fosse ligado a comida, talvez, que teríamos um bom roteiro gastronômico, mas isso ficou em suspenso.
Enfim, nosso diretor irá agora a Brasília nos próximos dias, a fim de conseguir patrocínio para realização de um filme com o tema: a imigração italiana no sul do Brasil, e com a participação desses futuros cineastas: Fernanda, Bruna, Rober, Daniela, Maria Augusta, Ana Carolina, Denise, Anderson, e demais alunos de cinema da UFSC. Ficaremos na expectativa de sua realização.
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IZABELLA PAVESI
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Foto: GRUPO DE CINEMA DA UFSC com FRANCO B.TAVIANI