SOMOS TODOS IGUAIS
Como voluntaria, participo assiduamente de uma instituição denominada APAE. Ali as crianças (quando falo crianças não determino idade) com síndrome são carentes de pessoas que saiba e queira conversar com elas de igual por igual. Participar das festividades com elas pra mim é uma honra que jamais conseguir no meu mundo, mundo esse que as chamas de deficientes. Não, crianças com síndrome não são deficientes. Elas só têm a mente infantil, e ser infantil não é ser deficiente. Assim eu entendo e assim eu acredito.
Teria mil relatos para falar da inteligência dessas crianças, mas resumirei em dois episódios dos quais participei esse ano, eventos esses que a sociedade ainda se nega a partilhar.
Nos festejos juninos desse ano, a direção daquela instituição resolveu fazer diferente, as quadrilhas eram apresentadas entre eles. Ficou acertado que teríamos uma quadrilha onde formaríamos pares entre alunos, professores, assistentes, voluntários, e como não podia deixar de ser, teve também a participação dos pais.
Acreditem, foi a quadrilha mais divertida que já tivemos, sem contar com as surpresas. É realmente incrível a capacidade que aquelas crianças têm de aprender! Confesso que de inicio achei que teria alguma dificuldade com o meu par, afinal para a dama levar o cavalheiro em um ritmo de dança é sempre mais difícil, mas quem disse que precisei levar meu par? Minha maior surpresa foi quando ainda no primeiro ensaio ele já me levava como qualquer outro cavalheiro faria. Esse foi o São João mais animado que já tivemos desde que participo dos eventos daquela instituição. A quadrilha foi uma animação que dava gosto, muitas brincadeiras, risos e muita alegria. Logo em seguida tivemos um lanche com comidas típicas, onde elas se comportaram como qualquer criança educada se comportaria em uma mesa.
Outro fato que me marcou muito foi um passeio que fizemos a uma cidade praiana vizinha aqui da capital, a casa com piscina requer maiores cuidados, afinal nem todos sabem nadar, e mesmo para os que sabem, nunca são deixados sozinho, pois todo cuidado é pouco quando se trata de águas profundas.
Como nado bem, optei por ficar na água.observando os que nadavam e acompanhando aqueles que ainda não sabem nadar. Durante toda a manhã insisti para que Henrique, um garotinho de 12 anos que entrasse na água, ele se negou terminantemente... Confesso que foi frustrante saber que aquele garotinho não confiava em mim.
A partir daquele momento passou a ser um desafio leva-lo para dentro da piscina. Muito conversei, mostrando que a piscina me dava pé (mentira,fiquei flutuando sou baixinha, mas não tinha jeito. Abusei da minha alto confiança e depois do lanche da tarde, convidei ele a sentar na borda da piscina. Ele começou colocando os pés na água, a presença da mãe ao seu lado lhe deu uma certa confiança, fiquei dentro da água, segurando nas bordas, falando da importância da natação para a saúde. Mostrei o quanto as outras crianças estavam se divertindo, falei do calor insuportável que fazia, do quanto era bom nadar, enfim, tentei ser o mais convincente possível... Foi só o tempo de mergulhar para ver o grito dele, enquanto ainda estava embaixo d!água:
- TIIIIIIIIA TOU ENTRANDO...
Naquele instante sentir uma sensação maravilhosa de dever cumprido, por fim Henrique tinha confiado e pulado na água!
Hoje passo as tardes de sábado na piscina da instituição, lá as crianças da APAE fazem aulas de natação uma vez por semana. Não sou professora, mas não abro mão de estar lá ajudando aqueles profissionais que para as crianças são seus heróis. Henrique é um dos alunos que não falta uma aula e é sempre um dos primeiros a chegar.
As crianças com síndrome só necessitam de pessoas que as compreendam e transmitam confiança. Ser voluntária de uma instituição não quer dizer que você tenha que contribuir financeiramente. De certo toda ajuda é sempre bem vinda, mas o que importa mesmo é você dedicar um terço do seu tempo, dando a elas aquilo que você sabe fazer. Acredite, elas são como qualquer criança, a única diferença é que são carentes de pessoas como nós.
Nosso lema aqui é:
“NÓS NÃO SOMOS ESPECIAS, ESPECIAIS SÃO VOCÊS, QUE FORAM ESCOLHIDOS POR DEUS PARA NOS AMAR..."